quarta-feira, 30 de junho de 2010

Os erros gramaticais de Saramago

Dizer que José Saramago cometia erros gramaticais é tão estúpido como dizer que Luís de Camões escrevia com erros ortográficos.

O que José Saramago fazia ao escrever não era alterar concordâncias entre sujeitos e predicados, falhar na coerência verbal ou utilizar de forma errada advérbios, conjunções, complementos, frases relativas. O que José Saramago alterou apenas na forma de escrever português foi a pontuação. Usava sim a vírgula como pausa maior do que aquilo a que nos ensinam na escola primária e não sinalizava as falas com aspas e travessões – usava a vírgula para marcar a pausa.
O que Luís de Camões fazia e que se encontra amiúde nos Lusíadas (oh! essa obra fundadora!) era sacrificar os processos habituais de criação de palavras do português, substituindo-os por fenómenos possíveis mas alternativos, em favor da métrica, criando palavras novas. É claro, como ainda não havia ortografia estabelecida do português (o 1º tratado é de 1576) pode argumentar-se muita coisa, mas numa breve história da língua consegue perceber-se o que era normal e o que não era.

Ah! O que Eça de Queirós fazia muito era utilizar palavras estrangeiras inexistentes em português adaptando-as ou, por vezes, nem isso. Lembram-se do spleen da época?

Temos todo o direito de não gostar de Saramago, do Camões ou de outro qualquer. Aliás, temos todo o direito de não gostar de nada. Mas vamos tentar ser minimamente inteligentes quando tornamos as nossas opiniões públicas. As coisas que tenho lido na blogosfera são assustadoras, sobretudo porque são publicadas por pessoas que escrevem e acham que escrevem bem. Revejam lá a gramática! Ah! E a semântica!

terça-feira, 29 de junho de 2010

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Somos felizes?????

Somos 2 milhões de pobres. E somos felizes? Acordem! Acordem! Não chega termos uma linda família!
É preciso que a linda família possa crescer, se possa educar, possa modificar-se!
Quando alguém fica doente, a família fica com fome para ter dinheiro para os tratamentos. Quando temos um velho a cargo e ele fica acamado, é difícil tê-lo connosco e continuarmos a trabalhar. Quando chegam as férias não sabemos onde colocar as crianças ou gastamos demasiado dinheiro. Quando perdemos o emprego ficamos em pânico. Quando temos emprego trabalhamos horas a mais e ganhamos dinheiro de menos. Quando temos sorte temos emprego, a grande maioria agora tem recibo verde. Quando temos uma desavença não fazemos queixa em tribunal com medo das despesas. Quando vamos ao hospital temos que rezar para não sermos enxovalhados.
Somos felizes? Então porque é que anda tudo mal disposto?

Testemunho: eu não sou feliz! Há demasiadas coisas a funcionar mal no meu quotidiano que me limitam a felicidade. Sim, tenho uma linda família. Mas também tenho olhos! E andam bem abertos!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Estou doente...

Acabo de olhar para a parcelas do descontos no recibo de vencimento. Tanto dinheiro que eu aplicava bem aplicado dado afinal para quê?!!!!!!

Descobrir aos domingos

Já foi um mas os próximos 3 domingos prometem ser igualmente animados. Os jardins da Gulbenkian vão receber contadores de histórias, histórias, livros e mais histórias. Às 11h00, começam as actividades para os mais pequenos e as acções prolongam-se até à noite com histórias para maiores de 16 anos. O programa completo está disponível na Gulbenkian. Vemo-nos lá?

quinta-feira, 24 de junho de 2010

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Breve resumo dos últimos 16 dias e algumas considerações políticas descobertas no caminho

Casa-trabalho-casa-trabalho-casa-trabalho-casa-trabalho-casa-trabalho-casa-trabalho-casa-trabalho-casa-trabalho-casa-trabalho-casa-trabalho-casa-trabalho-casa-trabalho-casa-trabalho-casa-trabalho-casa-trabalho... não assim de repente não me lembro de ter feito outra coisa... ah! Também levei trabalho para casa! Isto foi mesmo original!

Eu sou de esquerda. De uma esquerda estranha que acho que não existe. De uma esquerda que acredita que as oportunidades devem ser iguais para todos; que a escola é a instituição principal para que isso possa acontecer. Que a casa de partida não deve condicionar determinantemente o futuro de cada um. De uma esquerda que acredita no trabalho como possibilidade de aceder a uma vida mais confortável. Que quer conforto, que é eloquente, que não tem preconceitos, que não tem auto preconceitos, que quer enriquecer sem que isso tenha que significar empobrecimento alheio.

Por isso, sou pela competência profissional. Sou pela boa organização das tarefas. Sou pelo cumprimento do horário de trabalho. Sou pela redução do horário de trabalho e contra as horas perdidas a não fazer nenhum. Sou contra as horas extraordinárias.

Depois, sou contra um Estado pseudo-democrático em que a escola está feita para uma média, quando a moda é muito pior. Sou contra uma escola que não tem consideração pelos que não percebem. Sou contra uma escola facilitista que combate o insucesso escolar com passagens administrativas, sem combater realmente o analfabetismo. Sou contra uma escola que não permite aos mais espertos avançar. Sou contra um sistema escolar. Sou pelas escolas locais, administradas localmente considerando as características da sua população. Sou contra uma escola que inclui. Sou pela escola que dá espaço.

Sou contra a esquerda que debita Marx e outros portentos sem os ter lido. Sou contra a citação a propósito de tudo e de nada. Sou contra a esquerda que finge ser democrática mas que nem no seio de uma discussão de café ou de blogue é capaz de ouvir argumentos diferentes. Sou contra o insulto. Sou pela argumentação até à exaustão. E também sou pelo encontro, pela possibilidade de ver no outro um capacidade de razão. Sou contra a irredutibilidade. Sou pela reunião. Pela concórdia.

Finalmente, sou contra as gajas de direita que não têm opinião política e acham que são o centro do mundo porque nasceram numa boa casa. Sou a favor das mulheres de direita que têm opinião própria e que percebem que os seus privilégios não são os de toda a gente. Sou pelas pessoas que conseguem olhar para o lado, mesmo se o seu umbigo está bem forrado.

Pergunta: há para aí algum partido político que me queira acolher?

terça-feira, 1 de junho de 2010

Feliz Dia da Criança?

Está nas bancas a Máxima Interiores de Junho com um dossier sobre Casas com Crianças. Reproduzo aqui a versão integral da entrevista realizada por mim à Presidente da APSI, Sandra Nascimento. Curiosamente, a entrevista foi gravada um dia depois de ir dar com o meu filho debruçado na janela...

Quantas crianças já caíram de varandas?

O ano passado foi uma desgraça. Caíram imensas de janelas e algumas ficaram com consequências graves, ficando muitas em coma. Não conseguimos depois fazer o seguimentos dos casos, porque as bases de dados oficiais dão-nos pouca informação. Trabalhamos muito pelos dados da imprensa.

Qual é o maior perigo nas casa?
Depende se falamos de gravidade ou frequência. Os acidentes mais frequentes são as quedas. As quedas de altura são as mais graves. Quedas de janelas, varandas, terraços, algumas delas com consequências mortais. E as quedas de escadas. Estas são as que têm maior probabilidade de ter consequências graves.

Os perigos são iguais em todas as idades?
Nas crianças mais pequenas (até aos cinco anos) a maioria dos acidentes acontece em casa, que é o ambiente em que as pessoas confiam mais.

Há contextos específicos para que os acidentes ocorram?
Os dados que temos dizem que a maioria dos acidentes ocorre com um adulto por perto. O adulto está mesmo ali, mas porque não há outras medidas de construção, arquitectura ou organização que potenciem a sua função os acidentes ocorrem. A vigilância é fundamental. O problema é que há demasiada confiança na vigilância. Não há super pais nem super mães e é impossível estarmos sempre com os olhos colocados sobre a criança. A construção deve existir em concomitância com a vigilância.

Há uma casa 100% segura?
Não. Mas há medidas que se podem tomar. O conceito é sempre atrasar o acesso da criança, dificultar o acesso da criança. Protectores de tomadas e tampas difíceis de produtos tóxicos têm essa função. Se a criança tiver tempo, mais cedo ou mais tarde vai conseguir ultrapassar. Nós sabemos que uma criança de 3 ou 4 anos já consegue subir a maior parte das guardas e das vedações que existem, não só por uma questão de habilidade motora como por poderem agarrar cadeiras, bancos.

Quais são as medidas mais urgentes?
Guardas para varandas, com 1,10m de altura, cujas aberturas não devem ter mais de 10 cm e com uma estrutura contínua sem elementos para apoio de pés. Como não é possível evitar acidentes, a ideia é atrasar o mais possível.

Mas colocar guardas em varandas pode originar conflitos com o condomínio. É frequente não se perceber que as razões de segurança se devem sobrepor a qualquer razão estética?
Sim. Os próprios profissionais ligados ao projecto, à arquitectura, têm alguma resistência. Na formação de base não existe uma preocupação relativamente aos dados antropométricos das crianças, nem à forma como elas utilizam o espaço. As medidas recomendadas para as guardas, por exemplo, estão intimamente relacionadas com o tamanho da cabeça, a altura. Continuamos a ver construções novas que por razões estéticas e financeiras não consideram estas questões.

As acções de formação da APSI nesta área, constam de quê?
O objectivo é sensibilizar para os riscos do elemento construído e como é que a criança explora e partilhar boas práticas e dar orientações no sentido de que desde o projecto à fiscalização se deve intervir no sentido de identificar os riscos.

Medidas concretas?
Limitadores de abertura nas janelas, preferencialmente já integrados da janela. Escadas com colocação de cancelas no primeiro degrau e no superior. Quanto aos afogamentos, construir espaços para apoio e armazenamento de produtos do banho. Vedações para piscinas, que é a única forma comprovada de atrasar o acesso à piscina. E tomadas com protectores de alvéolos.

E há práticas importantes relativas à organização do espaço?
Sim. Tudo o que é preciso para o banho deve estar ao lado. No que diz respeito às vedações, elas são inúteis se por perto estiverem móveis, caixas ou floreiras que se possam arrastar. Os produtos tóxicos devem ser arrumados em prateleiras mais altas e longe dos alimentos.

Vale a pena ser paranóico para proteger ao máximo?
Eu diria que não. Primeiro tem de se fazer uma avaliação do risco. Em escadas, janelas, varandas e piscinas sim, sem dúvida, fazer a adaptação e o investimentos necessários. Tudo o resto, na maior parte das situações, com boa organização consegue minimizar os acidentes. É importante encontrar um equilíbrio.

Devemos criar as crianças numa redoma?
Basta criar mais espaço para a criança andar. Tirar um móvel que está numa zona de passagem ou não ter tapetes, por exemplo, pode reduzir o risco. Não é preciso comprar todos os apetrechos que existem no mercado. Preferimos o bebé e a criança que está no chão, com um ambiente controlado, e que pode andar livremente. Pelo menos no quarto da criança e no espaço onde a criança passa mais tempo isto é possível concerteza.

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Para ficar ainda mais horrorizado, recolhi durante a pesquisa os seguintes números:

• Em 2002, 26 mil mortes de crianças com menos de 15 anos devem-se a ferimentos

• 70% dos acidentes em casa aconteceram a crianças

• 39% dos afogamentos acontecem a crianças

• Dos 0 aos 4 anos o afogamento é a maior causa de morte

• 43% das lesões são fracturas

• 21% das lesões dão-se na cabeça

• 28% de todas as queimaduras ocorrem em crianças

• Dos 0 aos 4 anos é a faixa etária em que ocorrem 75% das queimaduras em crianças, em contexto doméstico

Fonte: Organização Mundial de Saúde, WHO expert meeting, Bona, 2005 e EU Injury Database (IDB) of the European Commission, DG SANCO, and the network of national IDB data providers at https://webgate.ec.europa.eu/idb/

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Feliz Dia da Criança!