terça-feira, 27 de setembro de 2011

Mééééééé, mééééééee

Ninguém gostou da música que foi dada aos filhos o ano passado na escola, em actividade extra-curricular. Toda a gente achou que entre aquilo e nada não havia grande diferença. Toda a gente se queixou do canto gravado e das canções não cantadas ao vivo, das crianças não mexerem em instrumentos apenas os verem impressos em cartão...

Toda a gente inscreveu as crianças na mesma música extra-curricular a ser dada este ano lectivo, porque ninguém queria ser o único a excluir o seu próprio filho de uma actividade que, nas palavras de alguns, não serve para nada.

No futuro próximo iremos todos para o campo criar ovelhinhas dóceis, bonitas e que irão, como nós, umas com as outras, sem saber porquê, só porque as outras, se calhar, também querem ir.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Passatempo

Quem é que colocou o texto Maternidade Alfredo da Costa 1 e 2 dentro da pasta com o meu processo clínico?

A: O Presidente da República.
B: A senhora do quiosque em frente à MAC.
C: O estimado Anónimo que comentou o texto acima linkado.

As primeiras respostas certas ganham, em primeira mão, o acesso às minhas considerações sobre a Liberdade de Expressão e... a inteligência da censura.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O parto no melhor dos dois mundos


É muito difícil escrever sobre a beleza. Ando há dias à procura da palavra exacta para o nascimento da minha filha. Não existe. Ou eu não a encontro. A minha filha nasceu numa sala de partos da MAC. Fui conduzida no parto por uma equipa do Hospital da Estefânia, que faz sempre os bancos de urgências às segundas-feiras. E foi uma espécie de reconciliação com a minha natureza e com o hospital onde nasceu o meu primeiro filho.
A equipa da MAC que me acolheu nas consultas a partir das 38 semanas foi parte importante deste processo. Fui sempre atendida por médicas muito jovens com uma competência extraordinária que eu não tinha visto até aqui no SNS: o respeito pela opinião do utente sobre os procedimentos médicos a tomar. Um exemplo: às 39 semanas não quis que me fosse feito o toque que tenta normalmente despoletar o parto. A médica disse-me tranquilamente: “se não quer que eu faça esse toque eu não faço.” 
Outro: às 41 semanas, quando me foi apresentada a solução internamento para indução, eu recusei. A médica (a médica mais nova que alguma vez consultei) ficou aflita e finalmente triste, mas compreendeu as minhas razões. Disse-me “nós só queremos o melhor para as nossas pacientes.” Eu respondi que sabia, que queria apenas esperar mais uns dias para tentar que a bebé nascesse de forma natural, mas que agradecia mesmo muito toda a atenção de que estava a ser alvo.
Passei o fim-de-semana a andar. Domingo à noite, ao fim de 4 quilómetros a subir e descer a cidade, conclui que segunda-feira seria o dia do internamento e indução. Estava triste e temia que a história do nascimento do X se repetisse, mesmo se todos me davam a garantia que não há dois partos iguais.
Segunda-feira voltei à consulta com a dra. Lúcia, uma médica cheia de luz, que me enviou para as urgências a fim de fazer a indução porque o internamento na MAC estava cheio (querido governo anterior, vês como era melhor não ter fechado o bloco de partos na Estefânia?). Bem disse a médica que era uma ironia do destino eu ter fugido da Estefânia para ser uma equipa da Estefânia a fazer-me o parto. Acabou por ser uma epifania do destino.
Passei o dia na sala de partos onde nasceria a minha filha, sempre monitorizada pelo CTG, acompanhada pelo meu marido, visitada com regularidade por duas enfermeiras e pela equipa médica. Havia uma médica que sorria, uma médica muito nova que sorria sempre.
Às 4 da tarde começaram as contracções. Depois das 8, quando tive uma contracção mais forte pedi que chamassem uma médica para que começasse a aplicação da epidural. A médica examinou-me e disse “Ah! Mas estes são os cabelos do bebé! Já tem a dilatação completa!” O medo da dor fez com que me descontrolasse, mas a médica e a enfermeira conseguiram fazer com que me recompusesse. A médica era muito nova e sorria sempre.
Deram-me a possibilidade de parir de joelhos em cima da cama. Acabaram por me deitar e eu fiz força duas vezes. Com a primeira, senti a cabeça da bebé a aflorar e tive muitas dores. Depois de pedir para esperar, ouvi uma voz mágica que me conduziu ao sítio certo. A enfermeira disse-me “se fizeres força agora não rasgas.” Fiz uma força lenta que começou cá em cima ao pé do coração e a minha filha nasceu. Colocaram-na em cima de mim e depois de um momento que ainda me pareceu longo, a minha filha respirou e ficou cor-de-rosa.
Ficámos todos muito emocionados. A médica muito nova que sorria sempre, ainda sorria mais e dizia que a obstetrícia é a melhor especialidade do mundo. Eu só tinha vontade de a abraçar, por me dar este parto tão natural, tão simples, tão pacífico, tão bonito. Só não o fiz porque tinha a minha filha nos braços e o meu marido a abraçar-me a mim.
Obrigada dra. Margarida, obrigada enfermeira Rita, obrigada dra. Lúcia, obrigada MAC inteira, obrigada equipa da Estefânia.