segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Partir os dentes? Só em Lisboa e das nove às cinco!

Já me tinham avisado. “Olho nele, agora que começa a andar.” Pois a criança, menos de um mês depois de cair de cabeça no chão, resolveu atirar-se de uma caixa de cartão, para aterrar com a boca. Entre uma hemorragia difícil de estancar, um dente que parecia desaparecido e outro que parecia partido e completamente negro, fomos quase a chorar (eu, o pai e o filho), para as urgências do Hospital do Barreiro.
O atendimento foi rápido e a equipa (das enfermeiras à pediatra) foi excelente tanto no diagnóstico como na forma como nos trataram. A pediatra concluiu que o melhor era o meu filho ser visto por um estomatologista e assim começou a confusão:
- Primeiro ligou para o Hospital Dona Estefânia e ficámos a saber que naquele que é o Hospital dedicado às crianças, as crianças não podem partir dentes porque... não há esta especialidade.
- Dali, qualquer doente deveria ser encaminhado para o Hospital de São José. Mas, apesar do protocolo, São José não aceita crianças para estomatologia. Porquê? Provavelmente porque não apetece...
- Então a médica do Hospital do Barreiro teve que contornar o protocolo, ligar para Santa Maria, e pedir o favor de o sr. dr. estomatologista de serviço receber a criancinha, que não estava muito mal mas os pais estavam muito preocupados... Com resistência por não estarmos na área de influência do Hospital, e por grande favor, o sr. dr. lá disse que sim, que podíamos ir.
Lá fomos e fomos atendidos com celeridade e simpatia. O médico explicou-nos tudo e tratou-nos de igual para igual. Aparentemente vai ficar tudo bem, conserva os dois dentes e se algum ficou muito danificado, cai antes do tempo mas não é de esperar problemas.
Quando saímos, com alta, o sr. da recepção despediu-se assim: “E tiveram sorte. Se fosse depois das cinco já não eram atendidos.”

A quem é que contamos isto? A quem é que explicamos que este sistema de protocolos que não funcionam e urgências que não têm especialidades a todas as horas é tão estúpido que os próprios médicos desesperam? Como é que é suposto alguém trabalhar com gosto nesta confusão? Como é que se consegue não desistir de um tratamento mais difícil? Podem a ministra e os seus adidos passar um dia inteiro num hospital, do lado de cá, daqueles que não sabem o que está a acontecer, para perceber o que quem recorre às urgências sofre para além da doença?

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