sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Reunião de pais ou filme de terror?

A mulher sentada ao meu lado tem cara de bruxa má. Tem uma pele fantástica, lisa, sem rugas, e, no entanto, tem cara de velha, tem cara de má. Já no final na reunião de pais levanta a voz de uma forma que me envergonha. E depois há pais - mais civilizados, é certo - que acabam por dizer a mesmas coisas:
"Eu não sei o que o meu filho faz na escola."
"Eu gostava de saber ao detalhe como passam o dia."
"Eu não queria estar a ensinar coisas ao contrário do que ensinam aqui."
"Eu acho que o meu filho andou para trás."
Depois disto vêm as culpas da escola na falta de educação dos filhos e até no não serem capazes de deitar os miúdos cedo. "Eu preferia que não fizessem a sesta," diz a mãe cara de bruxa má.

Os miúdos têm alguns 2 anos acabados de fazer, outros fazem 3 a partir de Janeiro. Alguns pais estão preocupados com o desempenho de tarefas, como se fosse preciso saber já se terão grandes capacidades intelectuais. Alguns pais põem em causa a educadora, mas não o seu desempenho enquanto pais. Estes pais que não sabem o que os filhos fazem durante o dia também não lêem o plano semanal colocado à porta. Também não podem ir a uma aula quando a educadora convida. Também não entram na sala para ver os trabalhos...

Felizmente está lá a S. que olha para mim e me faz sentir que eu não sou a única ET. Somos duas... A escola do X. tem muitos defeitos. A sala deste ano é pequena. A ementa não é muito variada. E as conversas com a direcção parecem cair às vezes em saco roto. Para IPSS é muito cara. Mas eu confio na escola porque vejo que as crianças, na sua maioria, estão felizes; porque toda a gente se trata por igual; porque toda a gente sabe o nome de toda a gente. E depois, confio muito na educadora, porque sempre que precisei falou comigo, porque me ajudou sempre, porque o meu filho é uma criança feliz também graças ela, porque ela ensina pelos afectos.

E é disto que falo quando intervenho. E confirmo: sou um ET.

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