Quanto mais pessoas se afastarem do Sistema Nacional de Saúde (SNS) pior ele fica. Quanto menos pessoas críticas e exigentes recorrerem aos cuidados de saúde do Estado, menos respeito pelos direitos de quem usa o sistema público haverá. E já hoje, quem vai ao público é, na maioria das vezes, quem não tem alternativa.
É esta a minha convicção e foi o que expressei à minha médica de família. Também a ela lhe custava crer que eu (bem vestida, informada e interrogativa) preferisse ter uma gravidez acompanhada no público, por um médico de clínica geral e não um obstetra.
Eu preferia ter um obstetra. A minha irmã, também ela seguida no SNS, teve um obstetra. O acompanhamento por parte do Centro de Saúde de Oeiras foi tão bom que foi detectado ao bebé uma arritmia quase inaudível, ainda quando o seu nome científico era feto.
Eu preferia ter um obstetra. Mas em Lisboa, os CS estão a deixar de ter obstetras e ginecologistas. Parece que o número de nascimentos não justifica. Quem tenha um problema uterino, quem passe por uma menopausa difícil, quem tenha outro problema desse foro ou vai ao privado ou espera dias e dias por uma consulta, mas uma gravidez não pode esperar, por isso, o médico de família encarrega-se das grávidas.
Eu poderia pagar as consultas no privado. Não seria fácil mas seria possível. Só que não me parece ético não exigir ao Estado que me dê algo em troca dos meus impostos. Nem me parece justo que eu, por ser mais rica do que a maioria da população, tenha direito a atenções que a maioria das pessoas não tem. Esta é a minha forma de fazer política. Nunca fiz greve e só vou a algumas manifestações. Mas exigir respeito, fazer valer os direitos e reclamar junto das entidades competentes são coisas que a maioria dos utentes do SNS não faz, não sabe fazer e não pode. Eu quero que se possa porque eu quero um sistema de saúde competente.
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