quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Da necessária imobilidade das grávidas ou receita para exames nos Açores


Uma grávida não viaja. Toda a gente sabe. Quando uma mulher engravida é evidente que não se pode deslocar - nem em trabalho, nem de férias, nem por uma urgência imprevista. Embora esta ideia não tenha razões médicas efectivas, o próprio Sistema Nacional de Saúde não permite que se pense de outra forma.
Às 16 semanas de gravidez encontro-me nos Açores. Estou na Ilha Terceira para duas semanas de muita tranquilidade (aqui descansa-se mesmo). As férias estavam marcadas e com passagem de avião comprada, havia muito tempo... muito mais do que o tempo de gravidez. Como era impossível alterar as datas, resolvemos vir na mesma, achando que seria possível fazer a segunda colheita de sangue para o rastreio bioquímico. Realmente foi, graças à Dra. Antonieta Bento da Maternidade do Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, e ao Dr. Fernando Teixeira do Hospital do Santo Espírito, em Angra do Heroísmo. Como a mim me levou cinco dias até concluir o processo, descrevo o passo a passo dos essenciais para resolver uma situação como esta:

arranjar uma credencial para os Açores. Convém conhecer alguém com contactos (obrigada Sílvia!) e se não tente nas urgências do hospital;
recusar sempre fazer ecografias e outros exames no privado, porque os dados do primeiro exame são suficientes (com excepção do peso);
contar com a boa vontade do corpo médico açoriano para recolher o sangue, sintetizar o soro e emprestar o contentor que transportará a amostra congelada;
contactar a DHL para fazer o transporte, já que consegue normalmente fazer a entrega no dia seguinte à entrega, ao contrário dos CTT e de outros transitários .

Correu bem, apesar de tudo. Dos pormenores sórdidos retenho que, com excepção do Dr. Fernando Teixeira e da directora do laboratório, a maioria dos intervenientes açorianos neste processo não sabia o que era o rastreio bioquímico, incluíndo a enfermeira obstetra que me encaminhou para o médico que refiro...
Parece-me importante também ressaltar que esta operação que parece simples foi concretizada apenas porque houve boa vontade. Não há protocolos a seguir entre o Ministério da Saúde português e a Secretaria Regional de Saúde, quando se trata de procedimentos excepcionais, fazendo que quem é de "lá fora", como se diz aqui, se sinta estrangeiro e sem direitos. Mesmo quando não se fala de processos complicados, o simples facto do médico assistente ser externo à região autónoma traz complicações. Aqui, os diplomas dos profissionais de saúde continentais e as credenciais passadas por estes não são válidas. Tudo tem que ser feito segundo normas internas. Parece que, sendo residente em Portugal continental, é mais fácil ter filhos em Badajoz do que nos Açores.

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