Ontem, às 9h00, à saída do autocarro, deixei de ser de esquerda.
Pedi ao deficiente que escrevesse à Carris explicando a dificuldade que tem em sentar-se porque o autocarro vai sempre cheio. Expliquei que já tinha feito o mesmo na perspectiva de mulher que leva o filho ao colo e que apesar disso se levanta para dar o lugar ao coxo, à que teve o AVC ou à senhora com 100 anos. E o deficiente, que é bom da cabeça, disse-me o mesmo que todos já me disseram naquele autocarro: "Não vale a pena, a Carris é uma empresa que não muda, não vale a pena." Conversa queria muita, daquela de dizer que isto está tudo mal e que os outros são todos uns egoistas e só pensam neles... E eu interrompi-o, pedi desculpa por tê-lo interpelado e vim-me embora.
Hoje fui sentada, amanhã irei sentada e assim farei sempre que apanhar o autocarro. Decidi que aqui não vale a pena pensar no bem comum. As pessoas gostam mais de se queixar do que fazer qualquer outra coisa e é por isso que é inútil ser de esquerda. E é por isso que este país não merece comunistas.
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