sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Que tal falarmos de adopção assexuada?

O T chega sem o N. Já não o via há que tempos... pergunto-lhe pelo N. Os olhos enchem-se de lágrimas e diz-me “Não está comigo.” E pede-me para não falar disto, depois o meu marido há-de contar-me, não quer repetir a história, não o vê há meses...

O T ficou com o N quando o J desapareceu ou quase. O J era namorado do T. Sim, dois homens relacionados amorosamente que cuidavam do filho de um deles, um filho que era quase do acaso. O T foi o único pai que eu conheci ao N, do J ouvi falar muitas vezes, mas só conheci o T depois do J os ter deixado. E lembro-me de ouvir o T dizer que nunca tinha pensado em ser pai, por ser homossexual. E lembro-me de ver os olhos emocionados do T cada vez que o N teve uma novidade ou um carinho para ele. E lembro-me de ter a certeza que o que havia ali era amor, tal e qual como o amor que vejo entre o meu marido e o meu filho cada vez que os seus olhares se cruzam, cada vez que brincam, cada vez que se abraçam.

O J lembrou-se agora que tem um filho, passada uma série de anos. Também se lembrou agora que não é gay. Tem uma mulher de quem teve há pouco tempo 2 filhos gémeos, mas nem por isso são uma família estável. O J veio buscar o N para um fim-de-semana e nunca mais o trouxe a casa. A escola do N mudou de um dia para o outro. A vida do N mudou sem aviso. A vida do T... Bom, a vida do T tinha sido estruturada em torno da criança, como todos nós fizemos desde que fomos pais.

Agora o T não pode sequer ver o N. Os amigos que visitam o N dizem que ele pergunta sempre pelo T mas o T foi ameaçado pela mulher do J. Ela diz que o denuncia por pedofilia, se ele tentar ver o N. O grave disto é que ela sabe que a acusação surtiria efeito, simplesmente porque o T se assume como homossexual. E para muitas cabeças as duas coisas são a mesma coisa. E onde é que anda o J nesta história? O que é que ele diz em relação à sexualidade do T e em relação à restante estupidez de tudo isto? Estas são exactamente as mesmas perguntas que eu faço.

Ainda faço outra: quem é o pai nesta história?

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu ia perguntar a mesma coisa. Fiquei sem preceber quem era o pai biológico. (Mas presumo que seja o J, uma vez que ficou com o puto e o T parece não poder fazer nada...) Há muitos heterossexuais que dão em homo, mas do contrário nunca tinha ouvido falar! Tenho pena do puto... :/

Carla Macedo disse...

Olá Marina, presumes bem. O pai biológico é o J. Mas acho que o pai, pai a sério, que cuida e ama é o T.