quarta-feira, 28 de julho de 2010

Problemas de comportamento

Tenho muita dificuldade em perceber o conceito de problemas de comportamento em crianças pequenas. Noutro dia, dei com um livro que explica como lidar com os problemas de comportamento em crianças a partir dos 2 anos. Aliás, dei com a capa do livro porque faz-me confusão abrir um livro destes. É um tema sensível, já sei, e eu confesso o meu medo em falar destas coisas por dois motivos: 1º, pela boca morre o peixe; 2º, tenho amigas cujos filhos são considerados “doentes comportamentais” e custa-me que possam sentir-se magoadas pelas minhas opiniões.
Hoje a capa do metro ostenta uma sumptuosa manchete: “Salas de aula hiperactivas.” Lá dentro, a custo, descubro uma notícia pequenina, pequenina, sobre um estudo que aponta a existência de 2 alunos por turma, em Portugal, com hiperactividade. Mais à frente, lê-se no texto e entre aspas, como citação que não vem atribuída mas se supõe que é da investigadora, “efeitos devastadores.”
Dra. Cláudia Alfaite (a investigadora) efeitos devastadores têm as etiquetas que se colocam nas pessoas. Como o seu estudo recomenda a “intervenção precoce,” cito o artigo, e a detecção “o mais cedo possível” já prevejo que daqui a muito pouco tempo se consiga aferir no berço se uma criança vai desenvolver problemas de comportamento e a partir daí se comece a intervir com “terapia comportamental e medicamentosa”. Deixe-me dizer-lhe também que os maiores psicólogos americanos já se vieram desculpar por terem andado a dizer nos anos 90, que as crianças não deviam ser traumatizadas com castigos e palmadas. O que será que a doutora nos vai dizer daqui a 20 anos?
Pela forma como tenho ouvido as descrições de hiperactividade suponho que corro um risco grande de ter uma criança hiperactiva lá em casa. Porquê? Primeiro porque não sei como é que se deve educar. Depois de ter lido tantas teorias sobre a educação deixei de ler. Porque, por exemplo, as técnicas para o adormecer descritas nos livros não resultaram nem uma vez. Agora já dorme a noite inteira mas volta e meia as coisas andam para trás e temos que descobrir tudo de novo.
Vamos falar das birras? O meu filho inaugurou a época das birras precocemente (de acordo com os livros só começam aos 3 anos, não é?). Como é que consigo que se controle? Digo-lhe que não vale a pena chorar que não lhe dou as coisas enquanto ele estiver a fazer birra. Mas quantas coisas tentei antes de aqui chegar? E tenho a certeza que qualquer dia isto também já não resulta e vou ter de inventar nova estratégia para conseguir que ele acalme.
Outra razão para presumir a hiperactividade do meu filho é que ele é curioso e traquinas. Não pára quieto. Por exemplo, quando vamos no autocarro para a escola não pára de fazer perguntas. Ontem passou o tempo todo a dizer “como se chama esta rua?”. Durante 20 minutos, não é pêra doce. Mas eu lá vou tentando responder...
Na verdade nunca olhei para o meu filho como se fosse defeituoso. Tudo isto me parecem comportamentos normais. Eu é que acho difícil educar uma criança que quase não vejo. Bolas, não basta não o ver durante a semana, como o pouco tempo que me resta é passado a impor regras? Na verdade apetece-me mais brincar com ele. E é ainda mais difícil quando estou tão cansada que só queria chegar a casa e encostar-me um bocado. E ele não deixa. Portanto, quando o diagnóstico for contundente em relação à hiperactividade do meu filho eu vou pedir uma intervenção terapêutica para mim, isto é que me ensinem a comportar, a educar e que me dêem comprimidos para ter pica para lidar com ele todos os dias.

4 comentários:

Paula Macedo dos Santos disse...

Quando eramos pequenos não havia crianças hiperactivas; havia crianças que se portavam mal na escola e apanhavam um "bolachada" da professora. Também havia férias de 3 meses passadas a correr na terra do pai; só tinhamos aulas de manhã ou à tarde e a outra metade do dia era, mais uma vez, passada na rua a correr. Não entendam com o meu comentário que não acredito na existência de "disturbios comportamentais" mas a verdade é que uma criança fechada em casa ou numa sala de aula o dia todo sem poder gastar as energias, porta-se mal. Não tem outra possibilidade.

MP disse...

Concordo plenamente. As crianças de hoje não são, não podem, ser iguais às de ontem. As de hoje são sobrestimuladas e, contudo, aprisionadas (ninguém tem culpa disso). O conflito interior deve ser gigante. Não sei como se lida com isso porque não sou mais do que mãe, não sou especialista, mas o bom senso e o instinto continuam a ser, para mim, armas melhores e mais eficazes do que qualquer discurso académico escarrapachado num livro ou proferido numa tv.
Bjs

Carla Macedo disse...

Eu também não estou a dizer que não existe. Mas creio que se exagera no número de diagnósticos. E a culpa disso é dos médicos e psicólogos que vão por modas em vez de por factos. Também já li que há razões químicas para que a hiperactividade aconteça. Descobriram isto comparando gémeos. Eu não acredito é que na maioria dos casos declarados em Portugal exista de facto hiperactividade. Acho que a maioria das vezes, os pais, sem quererem, sem terem tempo nem referências, educam mal os miúdos. E também acho que vamos ter um problema de saúde pública quando esta geração crescer.

Anónimo disse...

Não tenho um filho hiperactivo, mas tenho um irmão. E quanto a este assunto da hiperactividade a única coisa que me ocorre dizer é que "quem vive no convento é que sabe o que vai lá dentro". Muito se diz e muito se opina sobre as crianças hiperactivas dos outros!