Está nas bancas a Máxima Interiores de Junho com um dossier sobre Casas com Crianças. Reproduzo aqui a versão integral da entrevista realizada por mim à Presidente da APSI, Sandra Nascimento. Curiosamente, a entrevista foi gravada um dia depois de ir dar com o meu filho debruçado na janela...
Quantas crianças já caíram de varandas?
O ano passado foi uma desgraça. Caíram imensas de janelas e algumas ficaram com consequências graves, ficando muitas em coma. Não conseguimos depois fazer o seguimentos dos casos, porque as bases de dados oficiais dão-nos pouca informação. Trabalhamos muito pelos dados da imprensa.
Qual é o maior perigo nas casa?
Depende se falamos de gravidade ou frequência. Os acidentes mais frequentes são as quedas. As quedas de altura são as mais graves. Quedas de janelas, varandas, terraços, algumas delas com consequências mortais. E as quedas de escadas. Estas são as que têm maior probabilidade de ter consequências graves.
Os perigos são iguais em todas as idades?
Nas crianças mais pequenas (até aos cinco anos) a maioria dos acidentes acontece em casa, que é o ambiente em que as pessoas confiam mais.
Há contextos específicos para que os acidentes ocorram?
Os dados que temos dizem que a maioria dos acidentes ocorre com um adulto por perto. O adulto está mesmo ali, mas porque não há outras medidas de construção, arquitectura ou organização que potenciem a sua função os acidentes ocorrem. A vigilância é fundamental. O problema é que há demasiada confiança na vigilância. Não há super pais nem super mães e é impossível estarmos sempre com os olhos colocados sobre a criança. A construção deve existir em concomitância com a vigilância.
Há uma casa 100% segura?
Não. Mas há medidas que se podem tomar. O conceito é sempre atrasar o acesso da criança, dificultar o acesso da criança. Protectores de tomadas e tampas difíceis de produtos tóxicos têm essa função. Se a criança tiver tempo, mais cedo ou mais tarde vai conseguir ultrapassar. Nós sabemos que uma criança de 3 ou 4 anos já consegue subir a maior parte das guardas e das vedações que existem, não só por uma questão de habilidade motora como por poderem agarrar cadeiras, bancos.
Quais são as medidas mais urgentes?
Guardas para varandas, com 1,10m de altura, cujas aberturas não devem ter mais de 10 cm e com uma estrutura contínua sem elementos para apoio de pés. Como não é possível evitar acidentes, a ideia é atrasar o mais possível.
Mas colocar guardas em varandas pode originar conflitos com o condomínio. É frequente não se perceber que as razões de segurança se devem sobrepor a qualquer razão estética?
Sim. Os próprios profissionais ligados ao projecto, à arquitectura, têm alguma resistência. Na formação de base não existe uma preocupação relativamente aos dados antropométricos das crianças, nem à forma como elas utilizam o espaço. As medidas recomendadas para as guardas, por exemplo, estão intimamente relacionadas com o tamanho da cabeça, a altura. Continuamos a ver construções novas que por razões estéticas e financeiras não consideram estas questões.
As acções de formação da APSI nesta área, constam de quê?
O objectivo é sensibilizar para os riscos do elemento construído e como é que a criança explora e partilhar boas práticas e dar orientações no sentido de que desde o projecto à fiscalização se deve intervir no sentido de identificar os riscos.
Medidas concretas?
Limitadores de abertura nas janelas, preferencialmente já integrados da janela. Escadas com colocação de cancelas no primeiro degrau e no superior. Quanto aos afogamentos, construir espaços para apoio e armazenamento de produtos do banho. Vedações para piscinas, que é a única forma comprovada de atrasar o acesso à piscina. E tomadas com protectores de alvéolos.
E há práticas importantes relativas à organização do espaço?
Sim. Tudo o que é preciso para o banho deve estar ao lado. No que diz respeito às vedações, elas são inúteis se por perto estiverem móveis, caixas ou floreiras que se possam arrastar. Os produtos tóxicos devem ser arrumados em prateleiras mais altas e longe dos alimentos.
Vale a pena ser paranóico para proteger ao máximo?
Eu diria que não. Primeiro tem de se fazer uma avaliação do risco. Em escadas, janelas, varandas e piscinas sim, sem dúvida, fazer a adaptação e o investimentos necessários. Tudo o resto, na maior parte das situações, com boa organização consegue minimizar os acidentes. É importante encontrar um equilíbrio.
Devemos criar as crianças numa redoma?
Basta criar mais espaço para a criança andar. Tirar um móvel que está numa zona de passagem ou não ter tapetes, por exemplo, pode reduzir o risco. Não é preciso comprar todos os apetrechos que existem no mercado. Preferimos o bebé e a criança que está no chão, com um ambiente controlado, e que pode andar livremente. Pelo menos no quarto da criança e no espaço onde a criança passa mais tempo isto é possível concerteza.
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Para ficar ainda mais horrorizado, recolhi durante a pesquisa os seguintes números:
• Em 2002, 26 mil mortes de crianças com menos de 15 anos devem-se a ferimentos
• 70% dos acidentes em casa aconteceram a crianças
• 39% dos afogamentos acontecem a crianças
• Dos 0 aos 4 anos o afogamento é a maior causa de morte
• 43% das lesões são fracturas
• 21% das lesões dão-se na cabeça
• 28% de todas as queimaduras ocorrem em crianças
• Dos 0 aos 4 anos é a faixa etária em que ocorrem 75% das queimaduras em crianças, em contexto doméstico
Fonte: Organização Mundial de Saúde, WHO expert meeting, Bona, 2005 e EU Injury Database (IDB) of the European Commission, DG SANCO, and the network of national IDB data providers at https://webgate.ec.europa.eu/idb/
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Feliz Dia da Criança!
1 comentário:
...obrigadinho....até vou ter pesadelos...bom, pelo menos esta noite vão ser diferentes...:)
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