sexta-feira, 13 de maio de 2011

Das tretas sobre o desemprego

Os desempregados são calões, não querem trabalhar. Com a ideia peregrina do grupo de reflexão do PSD, que defende a penalização na reforma de quem tenha recorrido ao subsídio de desemprego, não me espantei. Afinal sabemos que tais grupos são formados por pessoas que não têm problemas de empregabilidade e talvez por isso sejam pouco sensíveis aos problemas de quem está desempregado...
Choca-me mais quando o cidadão comum afirma violentamente, como ouvi hoje no fórum da TSF,
“quem está no subsídio de desemprego devia passar a dever ao Estado e pagar o valor que recebe, progressivamente, ao Estado quando encontrasse emprego, para encontrar emprego mais depressa.”
Eu olhei para o rádio e disse alto várias vezes “espero que amanhã fiques desempregado."
Esta ideia até podia ser bonita num cenário de pleno emprego. Quando há mais de 11% de desempregados num país esta ideia ofende. Ofende quem trabalha há 10 anos e de um dia para o outro ficou desempregado. Ofende quem trabalha há 20, nunca parou, foi melhorando progressivamente na sua carreira, mudou a convite para um emprego melhor, mas sem a segurança de um contrato sem termo, e de repente ficou sem emprego. Ofende quem trabalhou 40 anos numa fábrica e de repente a fábrica fechou e ficou sem emprego.
O país está como Pinhel, onde fecham fábricas de sapatos e não há outro lugar para ir trabalhar, como a Guarda, onde as fábricas de queijo diminuem a produção e reduzem o número de empregados e não há outro lugar para ir trabalhar, como Lisboa, onde se fecham serviços especializados e não há lugares congéneres para ir trabalhar e a experiência acumulada de cada um é um obstáculo a encontrar emprego noutra área.
Não há emprego. Não há trabalho. A economia está em recessão. A maioria das pessoas não tem qualificações ou capacidades pessoais para criar o seu próprio emprego. Não há mercado para nenhum sector actualmente, que não seja a exportação. As pessoas não têm um fundo de maneio que lhes permita criar emprego, porque trabalharam sempre apenas para conseguirem pagar as contas de cada mês, sem conseguirem fazer economias, porque os salários são baixíssimos. A partir dos 35 anos começa a ser-se velho demais para que as empresas invistam nestas pessoas.
O tipo de gente que fala daquela forma acha que há empregos? Há 600 mil empregos por ocupar? Há 600 mil pessoas que não querem trabalhar? E o desemprego que aí vem? É concerteza porque há muito mais gente sem vontade de trabalhar... Benza-os deus!

1 comentário:

Daniela Pamplona disse...

A questão é que todos achamos que o estado está a dar uma benesse aos desempregados malandros.Mas a verdade é que aquele dinheiro é do trabalhador e deveria ter plenos direitos sobre ele.

O trabalhador tem um ordenado, dá um terço dele para o estado durante anos. Quando o trabalhador não está empregado, o estado só tem é que devolver o dinheiro ao trabalhador.

Caso o trabalhador nunca fique desempregado, o estado fica a ganhar o terço do ordenado dele para sempre!


Se virmos as coisas assim, tudo muda um pouco de figura, não?