domingo, 2 de setembro de 2007

E ainda só tens essa barriga


Consigo finalmente escrever. Tenho andado cansada. A última coisa que me apetece quando chego a casa é sentar-me em frente ao computador. A barriga fica sempre esticada ao final do dia, o miúdo mexe-se muito e à noite parece que só posso ter duas posições: ou horizontal ou vertical. Sentada não lhe agrado. Deve ter menos espaço para fazer piscinas...
Tenho vindo a aprender que não se diz a verdade a toda a gente. Este cansaço e outros sintomas e sentimentos são coisas que não se devem revelar. Sobretudo a quem já esteve grávida. Também isto da maternidade é uma competição e é suposto que cada grávida se sinta o melhor possível, seja a maior, porque o que é natural nas mulheres... é estar grávida? Quando assim não é, encontra-se um óbvio sinal de falta de pendor natural para ser mãe.
Logo nos primeiro meses de gravidez o ritmo cardíaco aumenta (todos os médicos o explicam). Como consequência, aumenta a respiração e o cansaço cresce, mesmo em actividades que se fazem normalmente. Subir escadas começou logo a ser mais dificil (e eu moro num 2º andar sem elevador), caminhar pelas ruas do meu bairro ficou ainda pior (é que eu vivo no sobe e desce da Penha de França).
Um dia, estava eu a chegar ao Centro de Saúde e encontrei a mulher de um colega meu. Eu tinha vindo a pé desde a Baixa, porque até gosto de andar. Estava estafadíssima e mais do que se tivesse feito o mesmo sem estar grávida. Quando ela me perguntou como ía tudo, expliquei que "bem. Mas canso-me muito". A resposta não se fez esperar: "ai filha, e ainda só tens essa barriga".
Combinaram todas, foi? É que dos 3 aos 5 meses (que tenho agora)ouvi este comentário repetidas vezes das mais diferentes bocas. Havia as delegadas de propaganda médica, as donas de casa já com três filhos, as recentes mães, as directoras de marketing, as designers, as psicólogas, as professoras... Desculpem lá minhas "amigas". Eu sinto-me cansada e pelos vistos não fui feita para ser a melhor mãe do mundo.

Aliás, já percebi que há quem pense que eu não quero este bebé por causa das coisas que digo da gravidez. A gravidez, para mim, não é um estado de graça nem uma coisa agradável. É bom sentir o bebé a mexer, é bom saber que vou ter um filho e é incrível que ele esteja a crescer dentro de mim. É mesmo um milagre.
Mas o que é que tem de bom acordar duas vezes cada noite para ir fazer chichi? E acordar cheia de sede e não poder beber água porque se o fizer já sei que vomito? E ter convulsões matinais, sem ter nada do estômago, apenas porque hoje devo ter os orgãos deslocados? E não dormir bem porque há muito que a barriga para baixo deixou de ser uma opção? E dormir mal porque o inconsciente traz-me aos sonhos uma série de coisas que me pareciam resolvidas? Isto é bom? E o que vem a seguir?:
Mudei de caminho para o emprego, para evitar as subidas, já que me desloco a pé. Penso constantemente nas componentes de cada refeição. Sempre que me propõem uma viagem (que faz parte do meu trabalho) pondero quantas horas vou passar no carro. Às vezes tenho de ir a correr à casa de banho, outras tenho que me levantar e andar no escritório só porque a barriga assim o exige. Sinto um constante cheiro a leite podre, porque já deito colostro. Quando chego a casa ao final do dia tenho que pedir ao meu marido para me tirar os sapatos porque já não consigo desapertar as fivelas sem ginástica. Custa-me estender a roupa. Custa-me aspirar. E se passo muito tempo de pé começa-me a doer a barriga. Há ainda a comichão no umbigo, da pele a esticar. E a risota com o meu marido porque o sexo há-de voltar a ser bom daqui a um ano...
E é tão bom estar grávida.

3 comentários:

Sofia disse...

Completamente! Eu já estou grávida pela segunda vez e aquele estado de graça e de quase possessão transcendental também não me aconteceram. Claro que deve variar de mulher para mulher, consoante a personalidade, contexto, recursos, etc. A verdade, pelo menos para mim, é e foi muita coisa menos essa coisa iluminada, tipo as trompetas a tocarem, as nuvens a afastarem-se ao som de Bach para dar passagem a um raio de luz que recai exacta e exclusivamente sob Aquela que tem a barriga fecundada. Acho que muitas mulheres sublimam o desconforto, o cansaço, a fragilidade, a hipersensibilidade, enfim. Depois há o pós-parto, que para mim, da primeira vez, me foi difícil. Muito cansaço e aquela coisa das visitas, mesmo de pessoas que insuspeitavelmente pertencem à família ou ao círculo de curiosos... mas apesar de tudo, tem um lado muito positivo. Tudo de bom e força aí!!

Carla Macedo disse...

Olá Sofia! Aleluia! Obrigada por sermos duas! beijinhos,

3Picuinhas disse...

:) ...e ainda há aquela teoria de que durante a gavidez o cérebro encolhe 2 centímetros...
Verdade verdadinha é que a gravidez podiam ser só 3 meses que ninguém se importava... Ah e mais uma coisa, o batimento cardíaco aumenta porque a quantidade de sangue a circular no corpo materno duplica, logo é preciso bombear mais, logo mair número de batidas cardíacas...