Aos onze meses o meu filho começou a querer comer sozinho. Às vezes acerta na boca, outras vezes na parede, no chão ou no tecto. Mas já não prescinde da colher a cada refeição que faz em casa. Quando fez isto pela primeira vez nem queria acreditar. Estava tão contente! Era sinal de que já se começa a safar sozinho. E isto deixou-me muito orgulhosa.
Depois de contar à minha irmã, ela respondeu-me: “Onde é que está o teu bebé? Quem é esse rapazinho que tens aí?” E o meu coração começou a palpitar doutra maneira. Quero que o meu filho cresça ou não quero? Quero! Mas o tempo podia passar mais devagar...
Pensei na independência. È o que eu mais quero para o meu filho. Que ele seja autónomo, independente e capaz de tudo, quanto mais cedo melhor. Não porque me dê menos trabalho a mim (acho que vou passar mais tempo a sarar feridas), mas porque a independência foi e é o meu caminho para a felicidade. Não acredito na protecção exagerada das crianças e acho mesmo que cair dói mas é bom, porque aprendemos a não cair tão mal. Creio que crianças super protegidas se tornam amorfas e cínicas, porque não precisam de fazer nada já que lhes cai tudo no colo.
Andava a pensar nisto quando visitei uma casa se acredita no contrário. O meu filho não pode levantar-se sozinho porque se pode magoar. E mesmo quando eu digo que o deixem não o deixam porque “o menino se pode aleijar. Olha a boquinha.” E se eu contasse que no último domingo ele já trepou um móvel bicudo até à janela? Suicidavam-se colectivamente, certo? Isto só me incomoda porque é a casa dos meus sogros e a neta deles é... pelo menos, uma criança amorfa. Não sei se é cínica, mas aos oito anos ainda não come sozinha...
Problema: eu gosto muito dos meus sogros e até hoje só tive palavras boas para eles. Mas esta diferença abissal entre o que eu creio ser bom para os pequenos e o que eles pensam começa a ser demasiado grande. Ando a pensar numa creche mais cedo do que estava programado... E vou assim abrir a época das hostilidades.
Ou engulo um grande sapo?
Feliz 2009, ahahahah!
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Creche com vagas
A creche Ribeiro Santos, na Almirante Reis de Lisboa, ainda tem vagas para o berçário. Ligaram-me de lá, na semana passada, a avisar que as crianças ainda podiam ser inscritas. Aliás, o fundamental da comunicação era que a mensalidade tinha baixado. "Encontrámos uma forma, mesmo sem o apoio da Segurança Social, de indexar o valor da mensalidade ao do rendimento do agregado familiar." Boa!
E agora a fatal pergunta: e ter pensado nesse mecanismo ainda antes de perceberem que não conseguiam completar os 8 ou 12 lugares? É que ouvir que a prestação é de 300 e tal euros fez-me pensar: "mas...vamos alugar uma casa para o miúdo?"
E agora a fatal pergunta: e ter pensado nesse mecanismo ainda antes de perceberem que não conseguiam completar os 8 ou 12 lugares? É que ouvir que a prestação é de 300 e tal euros fez-me pensar: "mas...vamos alugar uma casa para o miúdo?"
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
contradições
Hoje estou em casa, doente, e aproveito para matar saudades. Escrever aqui mantinha-me sã. Entretanto muita coisa aconteceu:
- recebi o relatório médico do parto onde se pode ler, entre outras coisas, que a dilatação parou aos 5 dedos. ahahah! (confrontar por favor com a minha versão dos acontecimentos). bom! parece que eu não estive no acto médico! a contradição das escritas faz-me perguntar: e se eu tivesse feito uma queixa, como é que contra-argumentava em tribunal? a resposta a outra pergunta que fiz na altura ( a da idoneidade do autor do relatório) está respondida: não tem! foi a própria médica responsável pelo parto que fez o relatório. eu e o meu companheiro termos ouvido "8 dedos, 9 dedos, dilatação completa" foi uma alucinação!
- o meu filho teve otites (2) e na segunda recebeu antibiótico para se curar. humm. amamentado a peito, ainda hoje (eu sei, é esquisito) e em casa dos avós... afinal isto não era suposto ser mais do que suficiente para o gaiato não ficar enfermo?
- a saga da hiperplasia continua. umas vezes é muito provável que tenha a doença, outras vezes o mais provável é que não. a sra dra não se decide e lá continuamos nós, a ir à estefânia para picar o meu filho, tirar sangue e receber resultados inconclusivos. a única coisa definitiva é que a sra. doutora não recebeu a bolsa para a investigação que queria fazer sobre a variante benigna da doença com cortisol elevado... e o meu filho deixou de ser tão interessante...
- o meu filho não ía ver televisão até ter 1 ano. e noutro dia, aos 10 meses... não resisti. toma lá televisão a ver se te calas e adormeces que eu já estou cansada de te aturar... também tu, brutus! também eu!
- recebi o relatório médico do parto onde se pode ler, entre outras coisas, que a dilatação parou aos 5 dedos. ahahah! (confrontar por favor com a minha versão dos acontecimentos). bom! parece que eu não estive no acto médico! a contradição das escritas faz-me perguntar: e se eu tivesse feito uma queixa, como é que contra-argumentava em tribunal? a resposta a outra pergunta que fiz na altura ( a da idoneidade do autor do relatório) está respondida: não tem! foi a própria médica responsável pelo parto que fez o relatório. eu e o meu companheiro termos ouvido "8 dedos, 9 dedos, dilatação completa" foi uma alucinação!
- o meu filho teve otites (2) e na segunda recebeu antibiótico para se curar. humm. amamentado a peito, ainda hoje (eu sei, é esquisito) e em casa dos avós... afinal isto não era suposto ser mais do que suficiente para o gaiato não ficar enfermo?
- a saga da hiperplasia continua. umas vezes é muito provável que tenha a doença, outras vezes o mais provável é que não. a sra dra não se decide e lá continuamos nós, a ir à estefânia para picar o meu filho, tirar sangue e receber resultados inconclusivos. a única coisa definitiva é que a sra. doutora não recebeu a bolsa para a investigação que queria fazer sobre a variante benigna da doença com cortisol elevado... e o meu filho deixou de ser tão interessante...
- o meu filho não ía ver televisão até ter 1 ano. e noutro dia, aos 10 meses... não resisti. toma lá televisão a ver se te calas e adormeces que eu já estou cansada de te aturar... também tu, brutus! também eu!
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Passo a palavra
Este blog vai assumir o seu sleeping mode. Não tenho tempo. Peço desculpa. Com 8 horas de trabalho por dia (e estão a aumentar), um bebé de 8 meses que ainda não faz noites completas e uma série de responsabilidades (iguais às de toda a gente) não consigo organizar-me para escrever aqui. Há muita coisa para contar, para reclamar, mas sinto-me impotente face a esta instituição ridícula que é um dia só com 24 horas... E não tem livro de reclamações...
Hei-de voltar, em força e com novas peripécias, mas por enquanto, este blogue dormirá a sesta.
Obrigada a todos os que me leram! Passo a palavra a novas reivindicativas!!!
Hei-de voltar, em força e com novas peripécias, mas por enquanto, este blogue dormirá a sesta.
Obrigada a todos os que me leram! Passo a palavra a novas reivindicativas!!!
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Bebé novo, vida nova? e depressão pós parto no masculino
Sim, é redundante a expressão bebé novo. Sim, já sabemos que um bebé altera a vida toda. Sim, a mudança da casa foi por causa do filho - para estarmos mais perto dos avós. Mas é preciso mudar mesmo tudo? Acabo de aceitar uma nova proposta de emprego. Depois de anos a enviar curriculos, depois de meses a ir a entrevistas, depois de dias a achar que era desta... Agora que eu não estava a fazer nada para alterar este resto de constância que me sobrava - o emprego - fazem-me uma proposta irrecusável. Fui a uma entrevista que serviu apenas para que eu gostasse dos novos empregardores e não o contrário...Lá vou eu, a partir de Setembro, mudar de emprego, de linha do metro, de horário, ter que provar mérito, sair tarde e trabalhar à maluca. Tinha mesmo que ser agora?
E agora algo completamente diferente: Alguém tem um marido com depressão pós-parto? Aceitam-se trocas que eu já não aguento o meu!!! Agora a sério, eles também sofrem com isto ou é só o meu que anda obcecado?
E agora algo completamente diferente: Alguém tem um marido com depressão pós-parto? Aceitam-se trocas que eu já não aguento o meu!!! Agora a sério, eles também sofrem com isto ou é só o meu que anda obcecado?
quarta-feira, 30 de julho de 2008
Crocs ou coques?
O meu filho pesa 7 quilos mas cada vez que o tiro do carro pesa 14! Podem inventar umas coques mais levezinhas? O peso das cadeirinhas de transportar bebés é coisa que toda a gente se queixa! E há poucos dias comprei umas Crocs! Desde então os meus pés andam protegidos, confortáveis e quase sem pesos extra! Vou escrever à Crocs a pedir para inventarem uma Coque. E aposto que vão ficar ricos (ainda mais!).
quarta-feira, 25 de junho de 2008
Pequenos sentimentos
As crianças são surpreendentes. O inato é enorme nelas. Ou então andam a ficar espertos depressa. A primeira vez que o meu filho ficou com os avós e sem mim, tinha quase três meses. Eu tinha obras para fazer em casa e ele passou a tarde na casa dos avós. Quando o fui buscar estava diferente. Não sorriu para mim como já costumava fazer e durante o caminho todo insistiu em não olhar para mim, ao contrário do que era habitual quando íamos de carro a algum lado. Quando contei isto era, supostamente, imaginação minha que ele era “muito pequenino para ter sentimentos”...
Preparámos o meu regresso ao trabalho como pudémos. Passamos a maioria dos fins-de-semana junto aos meus sogros, para que o meu filho fosse ficando com eles, a fim de se habituar. Correu sempre tudo bem, todos os dias. Os meus sogros tinham uma alegria imensa e constante em ficar com o bebé e ele retribuia. Houve tardes inteiras em que estiveram só os três e correu sempre tudo bem.
A minha primeira semana de trabalho passou-se sem dificuldades. O meu marido ficou de férias para fazer a transição semanal. Todos os dias da semana foram para lá e tudo correu bem. Na verdade, na casa dos meus sogros tudo continua a correr bem. O meu filho é que está claramente zangado comigo, por eu o deixar tanto tempo sem mim. Quando eu regresso a casa para o ir buscar, começa a chorar. Parece que se lembra que eu o deixei por muito tempo. Lá o consigo acalmar e depois de mamar, fica tudo bem... até ser hora de deitar.
Quando chega o sono, é um filme. Ele percebe que está a adormecer e não quer. Acho que associa o sono dele à minha ausência. Ontem foi exasperante. Só dormia ao meu colo. Assim que o colocava na cama acordava aos berros. Não queria dormir ao colo do pai e olhava para ele com um ar estranho. Já estávamos os dois a desesperar quando finalmente, e ao colo do pai, apagou. Supostamente ía dormir às nove e esta tourada durou até à meia-noite. Acordou às 4 para comer (é costume) e às 6 da manhã, com um bocadinho de luz no quarto, acordou para brincar (é costume).
Estava super bem disposto até lhe chegar o sono outra vez, por volta das 8h00. Seguiu-se mais uma hora de choro contínuo, em que eu e o pai íamos trocando a sua companhia, para nos conseguirmos arranjar para sair. Finalmente, adormeceu e, mais uma vez, quando acordou estava em casa dos avós. Refilão, rabujento e à procura de maminha. Mas isto dele estar zangado comigo, deve ser impressão minha. Afinal, “ele é muito pequenino para ter desses sentimentos”...
Preparámos o meu regresso ao trabalho como pudémos. Passamos a maioria dos fins-de-semana junto aos meus sogros, para que o meu filho fosse ficando com eles, a fim de se habituar. Correu sempre tudo bem, todos os dias. Os meus sogros tinham uma alegria imensa e constante em ficar com o bebé e ele retribuia. Houve tardes inteiras em que estiveram só os três e correu sempre tudo bem.
A minha primeira semana de trabalho passou-se sem dificuldades. O meu marido ficou de férias para fazer a transição semanal. Todos os dias da semana foram para lá e tudo correu bem. Na verdade, na casa dos meus sogros tudo continua a correr bem. O meu filho é que está claramente zangado comigo, por eu o deixar tanto tempo sem mim. Quando eu regresso a casa para o ir buscar, começa a chorar. Parece que se lembra que eu o deixei por muito tempo. Lá o consigo acalmar e depois de mamar, fica tudo bem... até ser hora de deitar.
Quando chega o sono, é um filme. Ele percebe que está a adormecer e não quer. Acho que associa o sono dele à minha ausência. Ontem foi exasperante. Só dormia ao meu colo. Assim que o colocava na cama acordava aos berros. Não queria dormir ao colo do pai e olhava para ele com um ar estranho. Já estávamos os dois a desesperar quando finalmente, e ao colo do pai, apagou. Supostamente ía dormir às nove e esta tourada durou até à meia-noite. Acordou às 4 para comer (é costume) e às 6 da manhã, com um bocadinho de luz no quarto, acordou para brincar (é costume).
Estava super bem disposto até lhe chegar o sono outra vez, por volta das 8h00. Seguiu-se mais uma hora de choro contínuo, em que eu e o pai íamos trocando a sua companhia, para nos conseguirmos arranjar para sair. Finalmente, adormeceu e, mais uma vez, quando acordou estava em casa dos avós. Refilão, rabujento e à procura de maminha. Mas isto dele estar zangado comigo, deve ser impressão minha. Afinal, “ele é muito pequenino para ter desses sentimentos”...
sábado, 14 de junho de 2008
Cinco meses
Segunda-feira regresso ao trabalho. Segunda-feira vou passar a maior parte do dia sem o meu filho. Segunda-feira vou chegar a casa ainda mais cansada. E, de agora em diante, suponho que os dias se repitam assim. No início desta nova fase o meu filho:
- já come sopa, desde que tenha cebola
- não gosta de puré de maçã
- continua a mamar desalmadamente
- adora estar sentado mas ainda não o consegue fazer sem apoio
- nunca dormiu uma noite completa
- palra muito e gosta de música
- agarra as coisas e leva-as sempre à boca
- tem um sorriso que me deixa toda derretida
Os miminhos que me dá vão ser transferidos para os avós, durante uns tempos. Sei que fica bem entregue. Mesmo assim, ando ansiosa com a ideia da separação. E isto nem parece uma coisa minha. Afinal, transformei-me numa mãe galinha...
- já come sopa, desde que tenha cebola
- não gosta de puré de maçã
- continua a mamar desalmadamente
- adora estar sentado mas ainda não o consegue fazer sem apoio
- nunca dormiu uma noite completa
- palra muito e gosta de música
- agarra as coisas e leva-as sempre à boca
- tem um sorriso que me deixa toda derretida
Os miminhos que me dá vão ser transferidos para os avós, durante uns tempos. Sei que fica bem entregue. Mesmo assim, ando ansiosa com a ideia da separação. E isto nem parece uma coisa minha. Afinal, transformei-me numa mãe galinha...
sexta-feira, 30 de maio de 2008
Blogues da solidão
Hoje mudo um bocadinho o tema, porque ontem vi na SIC uma parte de um debate sobre a internet e a blogosfera. Fiquei chocada com o que o Francisco Moita Flores, que eu até tinha em boa conta, teve a lata de dizer. Segundo ele os blogues demonstram uma enorme solidão do seu autor. Sobretudo, os blogues de diários. A generalização é sempre má. Mas esta é muito arrogante.
As motivações de quem escreve só as pode explicar quem escreve. E se a mim me faz alguma confusão a exposição da vida privada - mostrar fotografias e falar com detalhe de intimidades (sobretudo quando se trata de filhos) - a verdade é que a maioria dos blogues que consulto me são úteis. Uns porque são excelentes do ponto de vista literário, outros porque dão informação importante sobre procedimentos a tomar junto de instituições ou situações específicas, uns porque me fazem rir, outros porque me emocionam. E, muito importante, porque na blogosfera e para quase todos os assuntos encontram-se pensadores que não estão condicionados, que vão às vezes muito além do que os cronistas e os comentadores oficiais fazem. Temos medo de perder o poleiro, é? Ou quem não é remunerado por expressar publicamente as suas ideias não tem direito a ser considerado?
FMF se me estás a ler, queria só dizer-te que escrevo este blogue porque a net, ainda assim, é o meio de expressão mais livre que conheço. Porque o medo de ser mal atendida num hospital levou-me a não fazer uma reclamação no livro amarelo. Porque descobri aqui uma forma de exercer a minha cidadania, de fazer política, um bocadinho ao lado dos canais habituais que, como deves reconhecer, andam com os pés e as mãos atadas. E de repente os meus textos tornaram-se úteis a alguém e os meus pedidos de ajuda foram atendidos.
As motivações de quem escreve só as pode explicar quem escreve. E se a mim me faz alguma confusão a exposição da vida privada - mostrar fotografias e falar com detalhe de intimidades (sobretudo quando se trata de filhos) - a verdade é que a maioria dos blogues que consulto me são úteis. Uns porque são excelentes do ponto de vista literário, outros porque dão informação importante sobre procedimentos a tomar junto de instituições ou situações específicas, uns porque me fazem rir, outros porque me emocionam. E, muito importante, porque na blogosfera e para quase todos os assuntos encontram-se pensadores que não estão condicionados, que vão às vezes muito além do que os cronistas e os comentadores oficiais fazem. Temos medo de perder o poleiro, é? Ou quem não é remunerado por expressar publicamente as suas ideias não tem direito a ser considerado?
FMF se me estás a ler, queria só dizer-te que escrevo este blogue porque a net, ainda assim, é o meio de expressão mais livre que conheço. Porque o medo de ser mal atendida num hospital levou-me a não fazer uma reclamação no livro amarelo. Porque descobri aqui uma forma de exercer a minha cidadania, de fazer política, um bocadinho ao lado dos canais habituais que, como deves reconhecer, andam com os pés e as mãos atadas. E de repente os meus textos tornaram-se úteis a alguém e os meus pedidos de ajuda foram atendidos.
sábado, 24 de maio de 2008
Amamentar não é só uma questão
A primeira vez que descobri que se tinha de pensar sobre a amamentação foi quando a minha irmã ficou grávida. Uma amiga perguntou-me se ela já tinha decidido o que fazer. A pergunta era estranha para mim. A meu entender a amamentação funcionava assim: se tivesse leite amamentava, se não tivesse (ou quando não tivesse) não amamentava.
Depois fiquei grávida e o meu corpo começou logo a dar sinais de que teria leite. A partir dos 5 meses tive de andar sempre com discos de amamentação - coisa que eu odiava. Durante este período, apesar de eu nunca pôr em causa o aleitamento materno, senti-me imensamente pressionada para amamentar. Como a mentalidade actual (diferente daquela que existia quando nasci) é muito favorável à amamentação, dizer qualquer coisa contra é quase um sacrilégio. Confesso que me senti ofendida quando li e ouvi coisas do género: as crianças alimentadas a peito são mais inteligentes e mais ligadas às mães. Sim, há estudos que o comprovam. E foram feitos de forma isenta? E foram tidas em conta outras variáveis? Por exemplo, que as mães que alimentam até mais tarde podem ser melhor alimentadas por que são de classes mais elevadas e que a inteligência dos seus filhos tem só a ver com os estímulos a que as crianças são expostas à posteriori? Nunca ouvi ninguém pôr esta hipótese, apesar de a mim me aparecer como uma evidência científica.
Graças às aulas de preparação para o nascimento, preparei o meu corpo para a amamentação e quando o leite subiu, a meio da noite no hospital, soube exactamente o que fazer: pegar no bebé e pô-lo a comer. Resultou. Não tive dores, nem febres, nem o peito ficou rijo. A practicidade da coisa também é aliciante. Com a vida já tão condicionada pelo nascimento do bebé, ainda assim permite improvisar um bocadinho e ir a algum sítio que não estava previsto, porque a alimentação está sempre garantida. E nem é preciso aquecer!
Mas, apesar de tudo correr bem nesta matéria, também nunca consegui gostar particularmente de amamentar, do acto em si. É aborrecido e às vezes dói. É inquietante não saber que quantidade o bebé engole. Se há uma semana em que não o vejo crescer, fico logo com dúvidas acerca do meu leite ainda ser bom.
Com o passar do tempo percebi que, mesmo não gostando de amamentar, não queria deixar de o fazer. Nem sequer parcialmente. Descobri que isto do aleitamento correr bem me ajudou imenso a ultrapassar as dúvidas acerca da minha capacidade de ser mãe, que eu senti tão posta em causa pela forma como o meu filho nasceu. A menos de um mês de regressar ao trabalho tenho recebido constantes pressões para ir experimentando outro leite, começar a dar sopinha e outros blablablas. Já vamos no segundo leite de farmácia e não há meio de o meu filho pegar no biberon. Parte-me o coração cada vez que experimentamos: o bebé olha para mim com um ar deseperado. E depois eu dou-lhe mama e fica tudo bem. Para ele e para mim também...
Depois fiquei grávida e o meu corpo começou logo a dar sinais de que teria leite. A partir dos 5 meses tive de andar sempre com discos de amamentação - coisa que eu odiava. Durante este período, apesar de eu nunca pôr em causa o aleitamento materno, senti-me imensamente pressionada para amamentar. Como a mentalidade actual (diferente daquela que existia quando nasci) é muito favorável à amamentação, dizer qualquer coisa contra é quase um sacrilégio. Confesso que me senti ofendida quando li e ouvi coisas do género: as crianças alimentadas a peito são mais inteligentes e mais ligadas às mães. Sim, há estudos que o comprovam. E foram feitos de forma isenta? E foram tidas em conta outras variáveis? Por exemplo, que as mães que alimentam até mais tarde podem ser melhor alimentadas por que são de classes mais elevadas e que a inteligência dos seus filhos tem só a ver com os estímulos a que as crianças são expostas à posteriori? Nunca ouvi ninguém pôr esta hipótese, apesar de a mim me aparecer como uma evidência científica.
Graças às aulas de preparação para o nascimento, preparei o meu corpo para a amamentação e quando o leite subiu, a meio da noite no hospital, soube exactamente o que fazer: pegar no bebé e pô-lo a comer. Resultou. Não tive dores, nem febres, nem o peito ficou rijo. A practicidade da coisa também é aliciante. Com a vida já tão condicionada pelo nascimento do bebé, ainda assim permite improvisar um bocadinho e ir a algum sítio que não estava previsto, porque a alimentação está sempre garantida. E nem é preciso aquecer!
Mas, apesar de tudo correr bem nesta matéria, também nunca consegui gostar particularmente de amamentar, do acto em si. É aborrecido e às vezes dói. É inquietante não saber que quantidade o bebé engole. Se há uma semana em que não o vejo crescer, fico logo com dúvidas acerca do meu leite ainda ser bom.
Com o passar do tempo percebi que, mesmo não gostando de amamentar, não queria deixar de o fazer. Nem sequer parcialmente. Descobri que isto do aleitamento correr bem me ajudou imenso a ultrapassar as dúvidas acerca da minha capacidade de ser mãe, que eu senti tão posta em causa pela forma como o meu filho nasceu. A menos de um mês de regressar ao trabalho tenho recebido constantes pressões para ir experimentando outro leite, começar a dar sopinha e outros blablablas. Já vamos no segundo leite de farmácia e não há meio de o meu filho pegar no biberon. Parte-me o coração cada vez que experimentamos: o bebé olha para mim com um ar deseperado. E depois eu dou-lhe mama e fica tudo bem. Para ele e para mim também...
quarta-feira, 30 de abril de 2008
SNS, cá vamos nós outra vez
Por causa da Hiperplasia da Supra Renal do meu filho, acabei por me decidir pelo seguimento no SNS. A coordenação entre os 2 médicos é mais fácil desta forma. Com um pediatra privado haveria mais complicações (como o encaminhamento do bebé para o serviço de endocrinologia do hospital onde trabalhasse). Depois, a melhor parte do seguimento da minha gravidez aconteceu no Centro de Saúde. Eu adoro a minha médica de família, sobretudo porque ela, quando não sabe, não inventa. Na primeira consulta, expliquei-lhe o que fui capaz acerca da doença e mostrei-lhe todos os resultados dos exames do bebé que possuo. Ela, claramente, não percebe nada da doença que o meu filho tem. Mas não tentou esconder. Disse qualquer coisa como "se ele está a ser seguido na Estefânia e lhe dizem que nós aqui o devemos tratar como um bebé normal, é isso que faremos." Cada vez que lá vou ela sente um orgulho evidente por o bebé estar a crescer bem e ter todos os reflexos que é suposto a cada mês. Diz muitas vezes "está preparado para a luta" - coisa que me parece deliciosamente comunista.
Mas o seguimento no Centro de Saúde da Penha de França tem outra vantagem: o enfermeiro. O enfermeiro é muito novo mas isso não o impede de ser super competente. Tem a componente emocional que nesta fase é tão importante. Fala baixinho, trata os bebés pelos nomes e incentiva as mães a tomarem as suas decisões. É elogiado na sala de espera e cada mãe que sai com o bebé ao colo sai da sala, normalmente, a sorrir. Ele preocupa-se e é disponível. Dá um email de contacto, diz que sempre que se sinta uma dificuldade se telefone ou simplesmente apareça. Comigo foi excelente quando me disse que eu podia voltar lá, só um mês depois. Eu pedi para fazer uma consulta pelo meio e ele acedeu ao meu pedido.
Só há uma coisa incrível. As condições físicas do centro de saúde são uma porcaria. É mesmo assim que se tem de falar. O elevador é mínimo e o carrinho não cabe lá dentro. As salas de espera são, na maioria, interiores e sem ar a circular. Os gabinetes médicos têm equipamentos dos anos 40. Sim, dos anos 40. E a médica de família e o enfermeiro lá vão todos os dias e sorriem sempre, mesmo quando me encontram no corredor, só de verem o meu filho a crescer.
Mas o seguimento no Centro de Saúde da Penha de França tem outra vantagem: o enfermeiro. O enfermeiro é muito novo mas isso não o impede de ser super competente. Tem a componente emocional que nesta fase é tão importante. Fala baixinho, trata os bebés pelos nomes e incentiva as mães a tomarem as suas decisões. É elogiado na sala de espera e cada mãe que sai com o bebé ao colo sai da sala, normalmente, a sorrir. Ele preocupa-se e é disponível. Dá um email de contacto, diz que sempre que se sinta uma dificuldade se telefone ou simplesmente apareça. Comigo foi excelente quando me disse que eu podia voltar lá, só um mês depois. Eu pedi para fazer uma consulta pelo meio e ele acedeu ao meu pedido.
Só há uma coisa incrível. As condições físicas do centro de saúde são uma porcaria. É mesmo assim que se tem de falar. O elevador é mínimo e o carrinho não cabe lá dentro. As salas de espera são, na maioria, interiores e sem ar a circular. Os gabinetes médicos têm equipamentos dos anos 40. Sim, dos anos 40. E a médica de família e o enfermeiro lá vão todos os dias e sorriem sempre, mesmo quando me encontram no corredor, só de verem o meu filho a crescer.
sexta-feira, 18 de abril de 2008
É um nim
Hiperplasia da Supra-Renal. Foi isto que entendi, mas só à terceira consulta de endocrinologia. O meu filho tinha indicadores químicos próximos dos habituais nessa doença congénita autossómica recessiva. Só percebi à terceira porque estes eram os termos utilizados pela médica, termos demasiado médicos para que eu pudesse compreender, sobretudo no estado debilitado em que me encontrava.
À terceira consulta lá consegui finalmente decorar o nome da doença. E consegui perceber que havia cortisol a mais envolvido na condição de saúde do meu filho. Mas que não era tanto que chegasse para afirmar definitivamente que ele era doente ou que fosse necessário fazer medicação. A médica sorria e dizia "É um nim. E estes casos são muito habituais na população portuguesa. Está relacionado com as origens sefarditas dos portugueses."
Vim para casa com a recomendação de que se alguma coisa se alterasse no seu estado: se parasse de crescer a olhos vistos, como até então, se deixasse de ser um bebé calmo como era, se deixasse de ter apetite ou ficasse repentinamente cansado, que fosse a correr para as Urgências do Hospital Dona Estefânia e dissesse Hiperplasia da Supra-Renal. Vivi umas semanas de pânico, sempre à espera que uma crise acontecesse. Sempre atenta às horas das mamadas, sempre atenta ao peso, sempre atenta a eventuais sinais de desidratação. Até hoje não aconteceu nada de grave, felizmente, e a cada consulta nova (agora a um ritmo mensal) espero que me digam que não é necessário lá voltar. Mas já sei que só depois do primeiro ano é que o meu filho vai deixar de ser um nim. Só nessa altura poderá fazer um exame mais conclusivo.
Quando fiquei boa (ou pelo menos melhor) dediquei-me à pesquisa na internet sobre estes termos estranhos - Hiperplasia da Supra Renal - e descobri, mais uma vez, que em Portugal o conhecimento é para as capelinhas. No site da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia Diabetes e Metabolismo, não há informação relevante sobre a doença. Quase tudo o que sei hoje e que me possibilitou fazer perguntas e mais perguntas à médica, está em sites brasileiros. A terminologia é diferente nos dois países, mas se não fosse o Brasil onde há muitos estudos publicados on-line, provavelmente ainda hoje não sabia metade do que sei. Claro que tinha sempre as sociedades de endocrinologia anglófonas e francófonas, mas se já é difícil perceber em Português, quanto mais em Inglês ou Francês.
Assim, que quiser saber mais sobre esta doença pode pesquisar em www.endocrino.org.br/, http://www.hse.rj.saude.gov.br/profissional/revista/36b/hiperplasia.asp e http://www.lusoneonatologia.net/.
À terceira consulta lá consegui finalmente decorar o nome da doença. E consegui perceber que havia cortisol a mais envolvido na condição de saúde do meu filho. Mas que não era tanto que chegasse para afirmar definitivamente que ele era doente ou que fosse necessário fazer medicação. A médica sorria e dizia "É um nim. E estes casos são muito habituais na população portuguesa. Está relacionado com as origens sefarditas dos portugueses."
Vim para casa com a recomendação de que se alguma coisa se alterasse no seu estado: se parasse de crescer a olhos vistos, como até então, se deixasse de ser um bebé calmo como era, se deixasse de ter apetite ou ficasse repentinamente cansado, que fosse a correr para as Urgências do Hospital Dona Estefânia e dissesse Hiperplasia da Supra-Renal. Vivi umas semanas de pânico, sempre à espera que uma crise acontecesse. Sempre atenta às horas das mamadas, sempre atenta ao peso, sempre atenta a eventuais sinais de desidratação. Até hoje não aconteceu nada de grave, felizmente, e a cada consulta nova (agora a um ritmo mensal) espero que me digam que não é necessário lá voltar. Mas já sei que só depois do primeiro ano é que o meu filho vai deixar de ser um nim. Só nessa altura poderá fazer um exame mais conclusivo.
Quando fiquei boa (ou pelo menos melhor) dediquei-me à pesquisa na internet sobre estes termos estranhos - Hiperplasia da Supra Renal - e descobri, mais uma vez, que em Portugal o conhecimento é para as capelinhas. No site da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia Diabetes e Metabolismo, não há informação relevante sobre a doença. Quase tudo o que sei hoje e que me possibilitou fazer perguntas e mais perguntas à médica, está em sites brasileiros. A terminologia é diferente nos dois países, mas se não fosse o Brasil onde há muitos estudos publicados on-line, provavelmente ainda hoje não sabia metade do que sei. Claro que tinha sempre as sociedades de endocrinologia anglófonas e francófonas, mas se já é difícil perceber em Português, quanto mais em Inglês ou Francês.
Assim, que quiser saber mais sobre esta doença pode pesquisar em www.endocrino.org.br/, http://www.hse.rj.saude.gov.br/profissional/revista/36b/hiperplasia.asp e http://www.lusoneonatologia.net/.
quinta-feira, 17 de abril de 2008
Sim, vou reclamar
Tenho 3 amigas grávidas. Duas delas vão ter o parto onde eu tive. Por elas, pelas outras grávidas que não conheço e por causa dos incentivos que tive neste blogue, vou voltar à carga. Mas desta vez o livro amarelo não me chega porque, afinal, poucas vezes esse livro serve para alguma coisa. A primeira decisão que tomei foi que escreveria uma carta à Administração do Hospital Dona Estefânia, para explicar o que se passou. Carta que será aberta, pois hei-de publicá-la, pelo menos, aqui no blogue. Carta que tentarei fazer chegar, em cópia, à ministra da Saúde. Carta que espero que possa ser replicada e adaptada por quantas sentirem que o atendimento no serviço nacional de saúde foi inadequado.
Na segunda-feira passada, fui ao Hospital Dona Estefânia e, no Serviço de Gestão de Processos deu entrada o meu pedido para consultar o meu processo clínico, do princípio ao fim. Aliás, pedi uma cópia do processo e um relatório médico porque, segundo me informou a senhora por detrás do guichet, raras vezes os processos são dados a conhecer aos pacientes, mesmo que a pedido do médico assistente. Resta o relatório médico, elaborado pelo pessoal da casa onde se descrevem os procedimentos que foram tomados e que é elaborado a pedido do utente. A justificação para pedir para ver o processo do próprio utente tem que ser dada por escrito e convém que tenha fins médicos caso contrário o Conselho de Administração, provavelmente, não autoriza que se facultem os dados do doente ao próprio doente.
Resumidamente: eu não tenho acesso directo ao meu processo clínico que é confidencial até para mim e o relatório médico será feito, no meu caso, com 3 meses de atraso em relação aos factos ocorridos. E será que é feito por um médico imparcial?
É que eu gostava de reclamar baseada em factos concretos e provados, do género: às 39semanas a ecografista esqueceu-se de escrever no processo qual era o estado do cordão umbilical ou a avaliação da dor e da sua origem durante o parto foi mal feita, dado que duas doses de epidural não conseguiram acalmar a paciente. Não sei se é isto que vou conseguir ou apenas um relatório que não relaciona os procedimentos médicos com o parto doloroso e com as consequências dele decorrentes. De qualquer das formas, espero agora que estes materiais me cheguem a casa para depois tomar as medidas certas. Segundo me disse a senhora por de trás do guichet, vou esperar um mês.
Na segunda-feira passada, fui ao Hospital Dona Estefânia e, no Serviço de Gestão de Processos deu entrada o meu pedido para consultar o meu processo clínico, do princípio ao fim. Aliás, pedi uma cópia do processo e um relatório médico porque, segundo me informou a senhora por detrás do guichet, raras vezes os processos são dados a conhecer aos pacientes, mesmo que a pedido do médico assistente. Resta o relatório médico, elaborado pelo pessoal da casa onde se descrevem os procedimentos que foram tomados e que é elaborado a pedido do utente. A justificação para pedir para ver o processo do próprio utente tem que ser dada por escrito e convém que tenha fins médicos caso contrário o Conselho de Administração, provavelmente, não autoriza que se facultem os dados do doente ao próprio doente.
Resumidamente: eu não tenho acesso directo ao meu processo clínico que é confidencial até para mim e o relatório médico será feito, no meu caso, com 3 meses de atraso em relação aos factos ocorridos. E será que é feito por um médico imparcial?
É que eu gostava de reclamar baseada em factos concretos e provados, do género: às 39semanas a ecografista esqueceu-se de escrever no processo qual era o estado do cordão umbilical ou a avaliação da dor e da sua origem durante o parto foi mal feita, dado que duas doses de epidural não conseguiram acalmar a paciente. Não sei se é isto que vou conseguir ou apenas um relatório que não relaciona os procedimentos médicos com o parto doloroso e com as consequências dele decorrentes. De qualquer das formas, espero agora que estes materiais me cheguem a casa para depois tomar as medidas certas. Segundo me disse a senhora por de trás do guichet, vou esperar um mês.
sexta-feira, 4 de abril de 2008
Enfermaria 5 estrelas
Não fosse o parto ter sido tão mau, eu andava agora a recomendar aos quatro ventos os nascimentos na Maternidade do Hospital Dona Estefânia. Fui tão bem tratada pelas enfermeiras, tive tantas atenções, fui alvo de tantos cuidados que quando me vim embora agradeci (também às auxiliares de acção médica) pela significativa diferença que fizeram no meu pós-parto imediato.
Cheguei às cinco da manhã à enfermaria, depois de duas horas no recobro. Fui colocada na minha cama e pouco depois entregavam-me o meu filho para mamar. Ficou comigo durante o tempo que eu quis, até que decidi pô-lo no bercinho para que eu pudesse dormir descansada. Como não me conseguia levantar, chamei uma enfermeira que o colocou na caminha e deu-me palavras de incentivo: "Faz muito bem. Assim é mais seguro." Quando acordei de manhã, pedi para tomar banho. Como não me podia levantar sem que me sentisse mal, deram-me banho na cama logo de seguida. Sempre que precisava traziam uma cadeira de rodas para que me pudesse deslocar. Durante os quatro dias de internamento, foram as enfermeiras que me explicaram tudo o que eu precisava saber do estado de saúde do meu filho, do meu estado de saúde.
Estive quase sempre acompanhada por uma enfermeira estagiária que era extraordinariamente sensível. Estava sempre por perto, ajudava-me a perceber as coisas, o que não sabia assumia e perguntava à enfermeira chefe e quando se dava conta que eu não queria companhia, ía-se embora. Foi ela que me acompanhou no primeiro banho de pé e percebeu que não era para entrar no cubículo. Foi ela que me explicou o teor da ecografia que foi feita ao meu filho e ela é que insistiu junto das outras enfermeiras para que eu o acompanhasse, apesar de estar em tão mau estado. Ela percebia tudo.
E percebeu quando eu perguntei: "Estas raparigas vão ser médicas?" A minha cama tinha sido repentinamente invadida por um bando de miúdas, de andar decidido. A mim foi-me ordenado que me despisse, sem contemplações, para que elas me pudessem palpar o corpo. Eu era apenas um exercício delas. A enfermeira estagiária acabou por desculpar-se, envergonhada: "Os cursos dos médicos ainda são diferentes dos nossos." Pois então eu faço uma sugestão: que os médicos vão estagiar com estas enfermeiras para aprenderem o quão importante é para um doente ser bem tratado, respeitado e informado acerca dos procedimentos a serem feitos.
Resumidamente: enfermeiras 5 - médicos 0.
Quanto às instalações: são boas, são novas, o meu quarto era de 4 camas, esteve sempre cheio, mas era confortável. Quanto à segurança: aos bebés é colocada uma pulseira electrónica para que não possam ser levados indevidamente. É um conforto.
Cheguei às cinco da manhã à enfermaria, depois de duas horas no recobro. Fui colocada na minha cama e pouco depois entregavam-me o meu filho para mamar. Ficou comigo durante o tempo que eu quis, até que decidi pô-lo no bercinho para que eu pudesse dormir descansada. Como não me conseguia levantar, chamei uma enfermeira que o colocou na caminha e deu-me palavras de incentivo: "Faz muito bem. Assim é mais seguro." Quando acordei de manhã, pedi para tomar banho. Como não me podia levantar sem que me sentisse mal, deram-me banho na cama logo de seguida. Sempre que precisava traziam uma cadeira de rodas para que me pudesse deslocar. Durante os quatro dias de internamento, foram as enfermeiras que me explicaram tudo o que eu precisava saber do estado de saúde do meu filho, do meu estado de saúde.
Estive quase sempre acompanhada por uma enfermeira estagiária que era extraordinariamente sensível. Estava sempre por perto, ajudava-me a perceber as coisas, o que não sabia assumia e perguntava à enfermeira chefe e quando se dava conta que eu não queria companhia, ía-se embora. Foi ela que me acompanhou no primeiro banho de pé e percebeu que não era para entrar no cubículo. Foi ela que me explicou o teor da ecografia que foi feita ao meu filho e ela é que insistiu junto das outras enfermeiras para que eu o acompanhasse, apesar de estar em tão mau estado. Ela percebia tudo.
E percebeu quando eu perguntei: "Estas raparigas vão ser médicas?" A minha cama tinha sido repentinamente invadida por um bando de miúdas, de andar decidido. A mim foi-me ordenado que me despisse, sem contemplações, para que elas me pudessem palpar o corpo. Eu era apenas um exercício delas. A enfermeira estagiária acabou por desculpar-se, envergonhada: "Os cursos dos médicos ainda são diferentes dos nossos." Pois então eu faço uma sugestão: que os médicos vão estagiar com estas enfermeiras para aprenderem o quão importante é para um doente ser bem tratado, respeitado e informado acerca dos procedimentos a serem feitos.
Resumidamente: enfermeiras 5 - médicos 0.
Quanto às instalações: são boas, são novas, o meu quarto era de 4 camas, esteve sempre cheio, mas era confortável. Quanto à segurança: aos bebés é colocada uma pulseira electrónica para que não possam ser levados indevidamente. É um conforto.
segunda-feira, 31 de março de 2008
Depois é melhor alguém limpar o tecto
O resultado de um parto como o meu, não podia ser bom. Não sei quantos pontos levei, porque a médica segundo me disse não os contou. Sei que estive mais de 20 minutos a ser cosida. Enquanto a médica tratava de mim, eu fui fazendo perguntas e pedi para ver a placenta. A médica olhava desconfiada para mim, não sei se espantada com a minha aparente consciência ou se incomodada por eu perguntar várias vezes o que é que ela estava a fazer. Eu juro que na altura era tudo curiosidade intelectual. Quando já não havia mais nada que eu quisesse saber olhei para o tecto e foi nessa altura que disse: "depois é melhor mandar alguém limpar o tecto." O tecto estava salpicado de sangue... do meu sangue.
Os dias seguintes mostraram bem que o parto correu mal. Eu inspirei inicialmente mais cuidados. Não me conseguia levantar, nem tanto por causa das dores mas por causa das tonturas. Cada vez que tentava fazê-lo, quase que desfalecia. Acordar para dar de mamar era um sacrifício. Sentia-me tão cansada que só queria estar deitada. Estava anémica por causa da perda de sangue e, apesar das doses de ferro intravenoso que tomei, o quadro manteve-se muito para lá do internamento. O meu útero era outro problema. Não estava a retomar a posição e as dimensões normais ao ritmo que devia. Por isso, apesar dos pontos todos e do corpo estar dorido, fui sujeita a uma ecografia endovaginal para ver o que é que se passava. No meio de uma festa de médicos e internos na sala de ecografias, em que todos vinham e íam alegremente para ver o estado do meu útero, foi-me proposto que me tirassem os coágulos à mão e a frio, logo ali. A alternativa era esperar que saíssem naturalmente, já que não era uma situação nada grave. Como é óbvio, eu preferi que a natureza tratasse das coisas. Mas o corpo humano é espantoso e, apesar do cansaço, ao terceiro dia de internamento eu tive alta. Fiquei feliz e contente. Só tinha que esperar pela confirmação da alta do meu filho para voltar a casa.
O médico que o tinha visto nos dois dias anteriores tinha-me dito que o meu filho só não tinha alta porque o parto tinha sido complicado mas que tudo estava bem com ele. Chegou a dizer que estava melhor que muitos bebés que tinham nascido em condições mais normais. Ao terceiro dia, só me restava aguardar pela vinda do médico para fazer a mala e ir finalmente para casa.
Nesse dia, veio outra pediatra avaliar os bebés. E fez-me uma pergunta em relação ao pai do meu filho, que já tinha ouvido antes: "O seu marido é muito moreno?" Eu disse que sim, que era tipo Figo. E então a senhora começa a debitar uma série de termos técnicos dos quais só percebi: desvio da supra-renal, malformação, lesão, hormonas, anemia "... e por isso vamos ter de fazer uma série de exames."
Foi um choque. De um momento para o outro o meu filho já não era saudável e era até possível que tivesse que ficar internado no Hospital Dona Estefânia. Seguiu-se uma série de exames, uma transfusão de sangue que demorou 4 horas e sucessivas colheitas de sangue. Ver um filho com uma veia cateterizada durante 24 horas, ouvi-lo chorar quando é picado, quando é despido, quando é apertado e perceber muito pouco do que se está a passar... não é pera doce... pelo menos. Tive logo ali um curso intensivo do que é ser mãe e sofrer pelos filhos.
No dia seguinte, o 4º do internamento em obstetrícia, o meu filho voltou a ser visto pelo pediatra inicial. E este achava que a sua colega tinha exagerado no diagnóstico. Este pediatra, pelo menos, falava português. Explicou-me que se suspeitava de uma alteração hormonal que podia ser crónica, que a anemia se devia provavelmente à violência do parto (eu teria ido buscar sangue ao cordão dele para compensar a minha hemorragia) e que podíamos ir para casa nesse dia. A consulta de endocrinologia já estava marcada, para saber os resultados finais das análises, mas que eu fosse descansada. E que a situação estava descrita no boletim de saúde do bebé. Infelizmente, a letra do médico era de médico e, até agora, ninguém (nem sequer a minha médica de família) conseguiu perceber o que lá está escrito...
Viemos para casa. E menos de uma semana depois, eu regressava ao hospital por causa de uma febre alta que não desaparecia. Nova ecografia, descoberta de coágulos, prescrição de antibiótico... Antes que o antibiótico acabasse, eu ía pela segunda vez às urgências. A febre reaparecia e com mais força, sinal de que a infecção uterina não tinha desaparecido. Desta vez, fui submetida a uma curetagem (vulgo, raspagem) para me tirarem os tecidos mortos. Como disse a médica Ana Bernardo - a única que me pareceu uma pessoa normal - "este não está a ser um pós-parto de sonho, pois não?"
A curetagem correu bem, eu regressei a casa na mesma noite e aos poucos fui voltando a ser quem era. Agora já tenho força, energia e entendimento - coisas que me faltaram durante mais de um mês. Por isso, escrevo agora. No texto seguinte hei-de opinar sobre os procedimentos e os profissionais de saúde. Agora não tenho tempo, o meu filho está a chamar.
Os dias seguintes mostraram bem que o parto correu mal. Eu inspirei inicialmente mais cuidados. Não me conseguia levantar, nem tanto por causa das dores mas por causa das tonturas. Cada vez que tentava fazê-lo, quase que desfalecia. Acordar para dar de mamar era um sacrifício. Sentia-me tão cansada que só queria estar deitada. Estava anémica por causa da perda de sangue e, apesar das doses de ferro intravenoso que tomei, o quadro manteve-se muito para lá do internamento. O meu útero era outro problema. Não estava a retomar a posição e as dimensões normais ao ritmo que devia. Por isso, apesar dos pontos todos e do corpo estar dorido, fui sujeita a uma ecografia endovaginal para ver o que é que se passava. No meio de uma festa de médicos e internos na sala de ecografias, em que todos vinham e íam alegremente para ver o estado do meu útero, foi-me proposto que me tirassem os coágulos à mão e a frio, logo ali. A alternativa era esperar que saíssem naturalmente, já que não era uma situação nada grave. Como é óbvio, eu preferi que a natureza tratasse das coisas. Mas o corpo humano é espantoso e, apesar do cansaço, ao terceiro dia de internamento eu tive alta. Fiquei feliz e contente. Só tinha que esperar pela confirmação da alta do meu filho para voltar a casa.
O médico que o tinha visto nos dois dias anteriores tinha-me dito que o meu filho só não tinha alta porque o parto tinha sido complicado mas que tudo estava bem com ele. Chegou a dizer que estava melhor que muitos bebés que tinham nascido em condições mais normais. Ao terceiro dia, só me restava aguardar pela vinda do médico para fazer a mala e ir finalmente para casa.
Nesse dia, veio outra pediatra avaliar os bebés. E fez-me uma pergunta em relação ao pai do meu filho, que já tinha ouvido antes: "O seu marido é muito moreno?" Eu disse que sim, que era tipo Figo. E então a senhora começa a debitar uma série de termos técnicos dos quais só percebi: desvio da supra-renal, malformação, lesão, hormonas, anemia "... e por isso vamos ter de fazer uma série de exames."
Foi um choque. De um momento para o outro o meu filho já não era saudável e era até possível que tivesse que ficar internado no Hospital Dona Estefânia. Seguiu-se uma série de exames, uma transfusão de sangue que demorou 4 horas e sucessivas colheitas de sangue. Ver um filho com uma veia cateterizada durante 24 horas, ouvi-lo chorar quando é picado, quando é despido, quando é apertado e perceber muito pouco do que se está a passar... não é pera doce... pelo menos. Tive logo ali um curso intensivo do que é ser mãe e sofrer pelos filhos.
No dia seguinte, o 4º do internamento em obstetrícia, o meu filho voltou a ser visto pelo pediatra inicial. E este achava que a sua colega tinha exagerado no diagnóstico. Este pediatra, pelo menos, falava português. Explicou-me que se suspeitava de uma alteração hormonal que podia ser crónica, que a anemia se devia provavelmente à violência do parto (eu teria ido buscar sangue ao cordão dele para compensar a minha hemorragia) e que podíamos ir para casa nesse dia. A consulta de endocrinologia já estava marcada, para saber os resultados finais das análises, mas que eu fosse descansada. E que a situação estava descrita no boletim de saúde do bebé. Infelizmente, a letra do médico era de médico e, até agora, ninguém (nem sequer a minha médica de família) conseguiu perceber o que lá está escrito...
Viemos para casa. E menos de uma semana depois, eu regressava ao hospital por causa de uma febre alta que não desaparecia. Nova ecografia, descoberta de coágulos, prescrição de antibiótico... Antes que o antibiótico acabasse, eu ía pela segunda vez às urgências. A febre reaparecia e com mais força, sinal de que a infecção uterina não tinha desaparecido. Desta vez, fui submetida a uma curetagem (vulgo, raspagem) para me tirarem os tecidos mortos. Como disse a médica Ana Bernardo - a única que me pareceu uma pessoa normal - "este não está a ser um pós-parto de sonho, pois não?"
A curetagem correu bem, eu regressei a casa na mesma noite e aos poucos fui voltando a ser quem era. Agora já tenho força, energia e entendimento - coisas que me faltaram durante mais de um mês. Por isso, escrevo agora. No texto seguinte hei-de opinar sobre os procedimentos e os profissionais de saúde. Agora não tenho tempo, o meu filho está a chamar.
terça-feira, 11 de março de 2008
O parto
(leitura não aconselhável a pessoas impressionáveis)
A primeira imagem eu tenho do meu filho é a de um bebé cinzento. Ele nasceu sem respirar e teve de ser reanimado para que pudesse viver. Lembro-me de estar na cama da sala de partos e pensar que ele estava morto. A pediatra interna chegou a dizer coisas como "eu não consigo", "estou a perdê-lo" e a pedir para que chamassem outro médico (suponho que o seu orientador). Depois de um momento que não sei definir, o bebé fez um breve som. Não um grito. Apenas um breve ahh. E nessa altura levaram-no para fazer exames e tratamentos. No processo, que incluiu máscara de oxigénio e massagem cardiotoráxica, uma voz dizia-me para me acalmar que era tudo normal. Não sei quem era a enfermeira ou médica que me dizia aquilo. Se eu estivesse em mim naquela altura, acho que lhe tinha batido. É normal que um bebé nasça quase morto? Não me parece e dá-me a sensação que isto aconteceu pela falta de cuidado dos vários envolvidos no parto, a começar pela enfermeira parteira que monotorizou a dilatação e o estado do bebé durante seis horas.
O grande dia começou às 9 da manhã. Às 41 semanas, entrei na maternidade pela urgência, como tinha sido combinado com a médica que me seguira até então. Não que já tivesse algum sinal de parto, não. A ideia era provocar o parto, depois da natureza e de sucessivos toques não o terem despoletado. Eu já estava farta e cansada da gravidez. No final aumentei 20 quilos, apesar dos cuidados alimentares que tive. Por isso, e contra tudo o que tinha lido, resolvi que era boa ideia provocar o parto. E estava tremendamente errada...
Então, fui para MHDE às 9h00 da manhã, onde dei entrada no serviço de ginecologia através das urgências. O atendimento começou logo bem, quando perguntei que indutor ía tomar. A sra. dra. achou que era mais interessante não me dizer o princípio activo do comprimido. Só depois uma enfermeira fez o favor de me explicar que o que eu ía tomar era prostaglandina.
Passei o dia inteiro no hospital. Caminhei nos corredores sempre acompanhada do soro e li um livro inteiro. Às 18h00 as contracções começaram, mas sem dor. Nessa altura comecei a perder líquido amniótico de forma muito leve. Fui para a sala de partos por volta das 20h00 e a dilatação estava a ser feita a bom ritmo. Por volta das 22h30 eu e o meu marido (que estava sempre comigo) falavamos que o bebé, provavelmente, ainda nascia nesse dia. A dilatação estava completa antes da 23h00.
Só que o bebé não descia. E então aumentaram as dores que já me tinham aparecido na zona mais baixa da barriga. Foi preciso receber 3 doses de epidural, para não me sentir mal. Mas enquanto não sentia dores também não sentia as pernas, nem sentia mais nada. Quase que adormecia. Mas como a dor não era das contracções pouco tempo depois voltou a doer. A verdade é que ela aparecia com a contracção, mas pela sua localização e sensação (parecia que ía rebentar) não podia ser uma contracção. Isto vejo eu depois porque durante o trabalho de parto não conseguia perceber nada. Só sentia a dor. E apesar de ter explicado a vários médicos e enfermeiros como era a dor, ninguém quis perceber que a dor era de outra coisa.
Até às 2h00 da manhã, não aconteceu nada. A enfermeira que está a vigiar a evolução do meu parto diz-me apenas para fazer força, para empurrar o bebé, para fazer mais força, para me por de pé, para me deitar... Eu estou estafada, cheia de dores, faço toda a força possível e não sinto evolução nenhuma. O bebé permanece sempre numa posição demasiado elevada para nascer. E de repente, a médica que me tinha atendido de manhã entra na sala de partos e explica-me que "vamos fazer o parto com ajuda". O meu marido teve que sair porque a intenção era usar ventosa. Nada no meu estado se tinha alterado. O bebé continuava lá em cima e, pelos sucessivos toques que a enfermeira parteira me fez, eu apenas percebia que havia qualquer coisa que não estava no sítio. Um obstáculo à saída do bebé, localizado no colo do útero.
A ventosa não funcionou e nessa altura, a médica toma um ar sério, diz "fórceps" e dois enfermeiros começam a empurrar a minha barriga. Bom, um deles, enganou-se e empurrou-me as costelas. Mas a noção de que me tinham partido uma só veio depois. Nesta altura, diziam-me para fazer mais força. Eu sentia umas dores horríveis e gritava muito. Mandavam-se estar calada, concentrar-me. É nesta altura que eu vejo a médica a fazer muita força, mas o corpo dela retoma sempre a posição inicial, porque o bebé não está a descer. O efeito é de mola.
E a mola era o cordão umbilical. Estava enrolado à volta do pescoço do meu filho e não o deixava descer. Foi preciso cortar-me e cortar o cordão umbilical lá dentro para que o bebé pudesse sair. O bebé saiu. Mas saiu cinzento e com imenso mecónio. O sofrimento dele era evidente, a ausência de respiração e de reacção foi horrível de ver. Mas o mais extraordinário de tudo, é que a minha primeira impressão é que o pessoal médico tinha feito tudo bem, porque o bebé estava vivo. Só depois, já em casa é que comecei a pensar no que podia ter sido feito e não foi.
Em primeiro lugar, há uma ecografia feita às 39 semanas, na maternidade, que não revela grande coisa. Nessa altura o cordão umbilical estava no ombro, segundo disse a médica (de quem desconfio como se pode ver num texto anterior). Mas às 32 o meu ecografista referiu a possibilidade do cordão umbilical fazer uma circular. Eu sei que o bebé se mexe muito (especialmente o meu, que às 40 semanas ainda andava aos pinotes) mas por isso mesmo, acho que se devia ter verificado onde estava o cordão na altura do parto. Por que razão não se faz uma ecografia nesta altura?
Depois, há uma enfermeira parteira que monitoriza a dilatação, que refere sentir um obstáculo à saída do útero, mas que prossegue na sua interpretação de que eu sou uma mariquinhas, em vez de tentar perceber que é desse obstáculo que eu me queixo a cada contracção e não da contracção em si.
De seguida há uma médica que resolve "ajudar" o nascimento porque lhe convém. Será que o turno estava a acabar? É que ela correu as salas todas (são 4) para fazer nascer os bebés que ainda não tinham tido a decência de sair... E o mais extraordinário é que a decisão de fazer ventosas não é dela. A enfermeira parteira deu-lhe a sua avaliação da situação e ela nem sequer fez algum exame para confirmar. E onde é que eu estava enquanto, rapidamente, se decidia o que fazer? Não estava. Ou melhor, estava mas não contava. Nem contava a opinião do meu marido, que podia pelo menos explicar que eu não sou de me queixar e se eu gritava é porque me doía mesmo muito.
Como disse antes, depois de ver o meu filho quase morto voltar à vida e umas horas depois já estar cheio de genica, acabei por achar que a carnificina que foi o nascimento tinha até corrido bem e que a equipa médica tinha feito todos os possíveis. Só depois, quando voltei às urgências da maternidade com uma de várias complicações decorrentes - uma infecção, é que percebi que tinham minimizado o meu sofrimento. A enfermeira parteira que viu o meu filho nascer estava de banco nesse dia e teve a distinta lata de me dizer que as hemorragias são normais no pós-parto. Isso eu também sei, mas eu não estava lá por causa do sangue. Eu tinha uma infecção uterina, com febre muito alta e por causa disso tive de sofrer, posteriormente, uma intervenção cirúrgica. Mas para aquela enfermeira é tudo normal... e ela até consegue diagnosticar uma hemorragia, só de olhar para a cara de uma pessoa.
A primeira imagem eu tenho do meu filho é a de um bebé cinzento. Ele nasceu sem respirar e teve de ser reanimado para que pudesse viver. Lembro-me de estar na cama da sala de partos e pensar que ele estava morto. A pediatra interna chegou a dizer coisas como "eu não consigo", "estou a perdê-lo" e a pedir para que chamassem outro médico (suponho que o seu orientador). Depois de um momento que não sei definir, o bebé fez um breve som. Não um grito. Apenas um breve ahh. E nessa altura levaram-no para fazer exames e tratamentos. No processo, que incluiu máscara de oxigénio e massagem cardiotoráxica, uma voz dizia-me para me acalmar que era tudo normal. Não sei quem era a enfermeira ou médica que me dizia aquilo. Se eu estivesse em mim naquela altura, acho que lhe tinha batido. É normal que um bebé nasça quase morto? Não me parece e dá-me a sensação que isto aconteceu pela falta de cuidado dos vários envolvidos no parto, a começar pela enfermeira parteira que monotorizou a dilatação e o estado do bebé durante seis horas.
O grande dia começou às 9 da manhã. Às 41 semanas, entrei na maternidade pela urgência, como tinha sido combinado com a médica que me seguira até então. Não que já tivesse algum sinal de parto, não. A ideia era provocar o parto, depois da natureza e de sucessivos toques não o terem despoletado. Eu já estava farta e cansada da gravidez. No final aumentei 20 quilos, apesar dos cuidados alimentares que tive. Por isso, e contra tudo o que tinha lido, resolvi que era boa ideia provocar o parto. E estava tremendamente errada...
Então, fui para MHDE às 9h00 da manhã, onde dei entrada no serviço de ginecologia através das urgências. O atendimento começou logo bem, quando perguntei que indutor ía tomar. A sra. dra. achou que era mais interessante não me dizer o princípio activo do comprimido. Só depois uma enfermeira fez o favor de me explicar que o que eu ía tomar era prostaglandina.
Passei o dia inteiro no hospital. Caminhei nos corredores sempre acompanhada do soro e li um livro inteiro. Às 18h00 as contracções começaram, mas sem dor. Nessa altura comecei a perder líquido amniótico de forma muito leve. Fui para a sala de partos por volta das 20h00 e a dilatação estava a ser feita a bom ritmo. Por volta das 22h30 eu e o meu marido (que estava sempre comigo) falavamos que o bebé, provavelmente, ainda nascia nesse dia. A dilatação estava completa antes da 23h00.
Só que o bebé não descia. E então aumentaram as dores que já me tinham aparecido na zona mais baixa da barriga. Foi preciso receber 3 doses de epidural, para não me sentir mal. Mas enquanto não sentia dores também não sentia as pernas, nem sentia mais nada. Quase que adormecia. Mas como a dor não era das contracções pouco tempo depois voltou a doer. A verdade é que ela aparecia com a contracção, mas pela sua localização e sensação (parecia que ía rebentar) não podia ser uma contracção. Isto vejo eu depois porque durante o trabalho de parto não conseguia perceber nada. Só sentia a dor. E apesar de ter explicado a vários médicos e enfermeiros como era a dor, ninguém quis perceber que a dor era de outra coisa.
Até às 2h00 da manhã, não aconteceu nada. A enfermeira que está a vigiar a evolução do meu parto diz-me apenas para fazer força, para empurrar o bebé, para fazer mais força, para me por de pé, para me deitar... Eu estou estafada, cheia de dores, faço toda a força possível e não sinto evolução nenhuma. O bebé permanece sempre numa posição demasiado elevada para nascer. E de repente, a médica que me tinha atendido de manhã entra na sala de partos e explica-me que "vamos fazer o parto com ajuda". O meu marido teve que sair porque a intenção era usar ventosa. Nada no meu estado se tinha alterado. O bebé continuava lá em cima e, pelos sucessivos toques que a enfermeira parteira me fez, eu apenas percebia que havia qualquer coisa que não estava no sítio. Um obstáculo à saída do bebé, localizado no colo do útero.
A ventosa não funcionou e nessa altura, a médica toma um ar sério, diz "fórceps" e dois enfermeiros começam a empurrar a minha barriga. Bom, um deles, enganou-se e empurrou-me as costelas. Mas a noção de que me tinham partido uma só veio depois. Nesta altura, diziam-me para fazer mais força. Eu sentia umas dores horríveis e gritava muito. Mandavam-se estar calada, concentrar-me. É nesta altura que eu vejo a médica a fazer muita força, mas o corpo dela retoma sempre a posição inicial, porque o bebé não está a descer. O efeito é de mola.
E a mola era o cordão umbilical. Estava enrolado à volta do pescoço do meu filho e não o deixava descer. Foi preciso cortar-me e cortar o cordão umbilical lá dentro para que o bebé pudesse sair. O bebé saiu. Mas saiu cinzento e com imenso mecónio. O sofrimento dele era evidente, a ausência de respiração e de reacção foi horrível de ver. Mas o mais extraordinário de tudo, é que a minha primeira impressão é que o pessoal médico tinha feito tudo bem, porque o bebé estava vivo. Só depois, já em casa é que comecei a pensar no que podia ter sido feito e não foi.
Em primeiro lugar, há uma ecografia feita às 39 semanas, na maternidade, que não revela grande coisa. Nessa altura o cordão umbilical estava no ombro, segundo disse a médica (de quem desconfio como se pode ver num texto anterior). Mas às 32 o meu ecografista referiu a possibilidade do cordão umbilical fazer uma circular. Eu sei que o bebé se mexe muito (especialmente o meu, que às 40 semanas ainda andava aos pinotes) mas por isso mesmo, acho que se devia ter verificado onde estava o cordão na altura do parto. Por que razão não se faz uma ecografia nesta altura?
Depois, há uma enfermeira parteira que monitoriza a dilatação, que refere sentir um obstáculo à saída do útero, mas que prossegue na sua interpretação de que eu sou uma mariquinhas, em vez de tentar perceber que é desse obstáculo que eu me queixo a cada contracção e não da contracção em si.
De seguida há uma médica que resolve "ajudar" o nascimento porque lhe convém. Será que o turno estava a acabar? É que ela correu as salas todas (são 4) para fazer nascer os bebés que ainda não tinham tido a decência de sair... E o mais extraordinário é que a decisão de fazer ventosas não é dela. A enfermeira parteira deu-lhe a sua avaliação da situação e ela nem sequer fez algum exame para confirmar. E onde é que eu estava enquanto, rapidamente, se decidia o que fazer? Não estava. Ou melhor, estava mas não contava. Nem contava a opinião do meu marido, que podia pelo menos explicar que eu não sou de me queixar e se eu gritava é porque me doía mesmo muito.
Como disse antes, depois de ver o meu filho quase morto voltar à vida e umas horas depois já estar cheio de genica, acabei por achar que a carnificina que foi o nascimento tinha até corrido bem e que a equipa médica tinha feito todos os possíveis. Só depois, quando voltei às urgências da maternidade com uma de várias complicações decorrentes - uma infecção, é que percebi que tinham minimizado o meu sofrimento. A enfermeira parteira que viu o meu filho nascer estava de banco nesse dia e teve a distinta lata de me dizer que as hemorragias são normais no pós-parto. Isso eu também sei, mas eu não estava lá por causa do sangue. Eu tinha uma infecção uterina, com febre muito alta e por causa disso tive de sofrer, posteriormente, uma intervenção cirúrgica. Mas para aquela enfermeira é tudo normal... e ela até consegue diagnosticar uma hemorragia, só de olhar para a cara de uma pessoa.
quarta-feira, 5 de março de 2008
Estou de volta!
Depois de um parto que correu mal e muito longe das expectativas que tinha para ele, depois de uma chegada a casa complicada e de uma recuperação difícil, depois de tanto tempo sem escrever, andei a ponderar sobre a continuação deste blog. Afinal o bebé já nasceu e eu voltei para casa completamente desiludida com o SNS. Já não sei se hei-de acreditar que alguma vez as coisas mudem em Portugal. Porque se houve coisas que correram muito bem, o parto e as complicações decorrentes mostraram-me que ainda há muito proteccionismo de classe entre os médicos e muita burrice dos que trabalham em seu redor. E que de nós, utentes do SNS, se espera que saibamos o mínimo e perguntemos o menos possível. Sentia-me sem forças para reclamar.
Mas hoje li o comentário que a Sónia Curado deixou ao meu último texto e pensei que faz sentido falar destas coisas. Nem sei muito bem porquê. Mas acho que faz.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
3,5 de gente
A pedido de várias famílias (mesmo) venho hoje aqui para vos dizer que o meu filho já tem mais de uma semana. Estamos em casa e bem, mas como ainda ando a juntar as peças sobre o parto - que correu mal - resolvi não escrever já e deixar para quando a cabeça, os pontos e as costelas estiverem todos mais frios. obrigada a todos.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
uma ecografista muda e uma médica que dá abraços
E vão quatro. Quatro consultas na Maternidade do Hospital Dona Estefânia e, de uma forma geral, posso dizer que o atendimento tem sido muito bom. Tenho uma médica extraordinária, que dá abraços (ou me deu a mim) depois de um exame que me custou particularmente - o toque. No final da minha escala de avaliação - que inclui secretaria, enfermeiras e auxiliares - está a ecografista do serviço de urgência.
Na consulta das 39 semanas, a médica que segue agora a minha gravidez achou por bem fazer uma nova ecografia. Às 32 semanas a ecografia de rotina tinha denunciado um possível enrolamento do cordão umbilical à volta do pescoço e a médica preferiu jogar pelo seguro. Nesse mesmo dia, seria possível fazer a ecografia numa sala quase contígua à da minha consulta. Simplesmente, a sra dra tinha ido almoçar e a secretária da mesma, apesar de ser secretária da mesma, não sabia da disponibilidade da sra dra. "Só posso marcar estes exames com o consentimento da sra dra", disse a secretária. Em consequência, marcava-se a ecografia para outro dia. "Mas será amanhã? E em que período do dia?", tive a veleidade de perguntar. "Não sei e não telefone para cá", foi a resposta pronta.
É claro que no dia a seguir, por volta das 12h00, estava eu a telefonar. E a resposta, ou seja, a hora a que eu podia ir fazer o exame, só chegou cerca de três horas depois, por que na minha primeira abordagem, o meu processo nem sequer tinha ainda sido visto pela sra dra. Lá fui à hora marcada e a ecografista, que se preparava para ir tomar um lanchinho à hora que tinha marcado comigo, conseguiu surpreender-me. Infelizmente, não foi pela positiva. Primeiro, nem sequer olhou para mim. Fiquei de pé à espera de indicações ou perguntas e nada. Depois assumiu que eu não tinha levado os exames anteriores, ao que respondi "qual deles é que quer ver". Seguidamente, já comigo deitada na mesa de observações resolveu dissertar sobre a falta de necessidade das mães serem informadas sobre este tipo de coisas. "Eu nunca digo. Não vale apena estar a criar ansiedade." Pois não... a partir daqui, limitei-me a olhar para o ecrã da ecografia e não fiz perguntas. Para quê? É possível confiar num médico que acha que a informação sobre o estado do feto é desnecessária para a grávida? Lá me disse que o cordão não tinha a tal circular à volta do pescoço e ainda foi benevolente ao ponto de me informar sobre o tamanho aproximado do bebé. As perguntas que me apetecia fazer, guardei-as para a minha médica. Aquela que dá abraços sem prejuízo do seu desempenho profissional.
Na consulta das 39 semanas, a médica que segue agora a minha gravidez achou por bem fazer uma nova ecografia. Às 32 semanas a ecografia de rotina tinha denunciado um possível enrolamento do cordão umbilical à volta do pescoço e a médica preferiu jogar pelo seguro. Nesse mesmo dia, seria possível fazer a ecografia numa sala quase contígua à da minha consulta. Simplesmente, a sra dra tinha ido almoçar e a secretária da mesma, apesar de ser secretária da mesma, não sabia da disponibilidade da sra dra. "Só posso marcar estes exames com o consentimento da sra dra", disse a secretária. Em consequência, marcava-se a ecografia para outro dia. "Mas será amanhã? E em que período do dia?", tive a veleidade de perguntar. "Não sei e não telefone para cá", foi a resposta pronta.
É claro que no dia a seguir, por volta das 12h00, estava eu a telefonar. E a resposta, ou seja, a hora a que eu podia ir fazer o exame, só chegou cerca de três horas depois, por que na minha primeira abordagem, o meu processo nem sequer tinha ainda sido visto pela sra dra. Lá fui à hora marcada e a ecografista, que se preparava para ir tomar um lanchinho à hora que tinha marcado comigo, conseguiu surpreender-me. Infelizmente, não foi pela positiva. Primeiro, nem sequer olhou para mim. Fiquei de pé à espera de indicações ou perguntas e nada. Depois assumiu que eu não tinha levado os exames anteriores, ao que respondi "qual deles é que quer ver". Seguidamente, já comigo deitada na mesa de observações resolveu dissertar sobre a falta de necessidade das mães serem informadas sobre este tipo de coisas. "Eu nunca digo. Não vale apena estar a criar ansiedade." Pois não... a partir daqui, limitei-me a olhar para o ecrã da ecografia e não fiz perguntas. Para quê? É possível confiar num médico que acha que a informação sobre o estado do feto é desnecessária para a grávida? Lá me disse que o cordão não tinha a tal circular à volta do pescoço e ainda foi benevolente ao ponto de me informar sobre o tamanho aproximado do bebé. As perguntas que me apetecia fazer, guardei-as para a minha médica. Aquela que dá abraços sem prejuízo do seu desempenho profissional.
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