quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Consulta de referência na MHDF

Às 36 semanas, como previsto, tive a minha consulta de referência no serviço de Obstetrícia da Maternidade do Hospital Dona Estefânia. Cheguei antes das 14h00 e pouco depois estava a fazer o CTG - o exame que controla os batimentos cardíacos do bebé a par das contracções do útero da mãe. A sala tinha três postos de CTG e em cada um estava uma grávida, com dois discos e dois cintos na barriga. Cerca de 20 minutos chegam para perceber se está tudo bem ou não. O ritmo cardíaco denuncia também a maturidade neurológica da criança e, por isso, quando não há contracções ou o bebé se encontra a dormir, as enfermeiras manipulam a barriga e sugerem que se mude de posição para ver as reacções. Correu tudo bem. Antes do CTG, mostrei os exames de toda a gravidez a uma enfermeira obstétrica, que também me mediu o peso e a tensão arterial. Estava tudo como era suposto estar.
Depois, seguiram-se 3 horas de espera porque o meu processo ficou, mais uma vez, encalhado no gabinete da enfermeira, ou da auxiliar, ou lá de quem era. Era o gabinete 25. No fim das 3 horas eu já estava deseperada. Doíam-me as costas, tinha a barriga dura e andava de um lado para o outro a ver se me passava o nervoso miúdinho. Vi as grávidas que fizeram comigo o CTG a sairem. Vi grávidas que chegaram depois de mim a sair e nada. Na recepção perguntei porque é que eu ainda não tinha sido atendida, uma auxiliar foi tentar ver o que se passava e voltou do corredor dos gabinetes médicos com a frase prodigiosa: não se preocupe que a sua ficha está no sítio que deve estar.
Daí a nada fui chamada... A médica que me estava destinada estava à minha espera há meia hora, porque na agenda tinha a marcação para a consulta de referência mas não tinha o meu processo com ela... portanto, não sabia por quem chamar. Quando saí da consulta fiz novamente uma queixa no livro amarelo (eu não desisto) e desta vez, com o apoio da médica que agora é minha.
Quanto à consulta, correu bem também. Levei uma pasta com todos os exames organizados cronologicamente, coisa que a médica agradeceu, porque lhe facilita bastante o trabalho. Copiou resultados de análises e ecografias para a minha ficha hospitalar, fez novamente o historial da família (dos dois lados)e recolheu amostras de exsudados vaginal e anal para análises. Destinam-se estes a prever as condições bactereológicas do canal de saída (e periféricos) do bebé. Se houver muitas bactérias, durante o parto administram um antibiótico que vai evitar infecções respiratórias no bebé. Depois fui ainda ao laboratório para uma colheita de sangue, por causa dos níveis de tromboplasmina elevados que detectaram na última análise.
Gostei imenso da médica, da forma como me atendeu e pediu desculpas pelo erro do serviço em que trabalha. Gostei das enfermeiras. Gostei até do CTG que imaginava muito mais intrusivo. Afinal não é. É apenas uma maquininha que me pôs a ouvir o coração do meu bebé. No fim de contas, correu tudo bem... tirando as três horas de espera.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Testemunho da Ana

A Ana deixou este comentário aqui no blog. Como acho que é importante, resolvi publicar algumas partes:
Sou grávida de 2a viagem, e tal como a minha primeira gravidez, estou a ser novamente seguida pelo privado. Para isso fiz um seguro de saude (Medis) uns tempos antes de engravidar, já a contar com isso. Dou-te os parabéns pela coragem com que te atiras aos lobos do SNS. Eu desisti, e acredita que, apesar do seguro de saúde, bem tentei ser assistida no público. Nunca tive aulas de preparação para o parto, em muito por causa do seu valor. Nem sabia que se podiam fazer nos hospitais... Na minha primeira gravidez, resumi-me a assistir aos encontros gratuitos oferecidos por lojas de artigos de bebé (Prenatal e Toys'R'Us).
Descobri recentemente, e por acaso, que não tenho que pagar as analises clínicas que me são receitadas (cada análise ficava-me numa média de €150, mesmo com seguro, na primeira gravidez), porque estou isenta. Mesmo nesta gravidez, quando me dirigi ao centro de saúde para que me fossem passadas as análises pelo SNS, ninguém me informou que estava isenta: paguei menos, mas paguei. Só o descobri à dois meses atrás.
Descobri ainda que a minha baixa médica (estou em reposo desde Setembro passado), é reembolsado a 100% em vez dos 65% que tenho estado a receber, por se tratar de uma gravidez de risco. Como descobri? Por acidente, num outro blog de alguém nas mesmas condições que eu...
O meu parto, faço questão de o fazer na MAC, por questões de segurança. Afinal é para lá que se leva um bebé nascido num hospital privado, se alguma coisa corre mal... Quem não gosta da piada é o meu obstetra, que apesar de trabalhar na MAC, está habituado a receber comissão pelos partos feitos às grávidas que acompanha no privado...
Já me dirigi à Segurança Social para pedir o famoso subsídio de natalidade por três vezes. Ainda não o consegui pedir. Na primeira, em Setembro, ainda não sabiam como funcionava, nem tinham impressos (apesar de o anúncio aparecer na tv há uma ou duas semanas). Na segunda lá me deram os impressos, incluindo o tal que tinha de ser preenchido pelo obstetra. À terceira, afinal precisavam de mais uns tantos papeis: fotocópias de BIs e contribuintes (meus, do meu marido e filha - com 2 anos, ainda sem contribuinte: tive de o pedir!!!), declarações de IRS (a nota de liquidação não chega). Ao todo 21 fotocópias, acrescidos dos respectivos impressos. É assim que está o nosso pais. As poucas coisas boas que nos dão, temos que as descobrir por nós mesmas. Quem é que adivinha???


Obrigada, Ana! E parabéns pela pequerrucha que já nasceu! Se não formos nós a escavar os nossos direitos, ninguém nos diz onde encontrá-los. Por isso é que é importante que se fale sempre, alto e bom som, do que podemos e do que não podemos fazer.

Pôr a Segurança Social a trabalhar

A Segurança Social do Areeiro foi reorganizada com o intuito, suponho eu, de melhorar o atendimento. Serve o presente texto para avisar que não está a resultar!!!
A fila para a recolha das senhas estava hoje, dia 11, às 10h30, muito, muito longa. Não sei quanto tempo se demorava porque eu usei a minha barriga para passar à frente de toda a gente. Mesmo grávida de 8 meses foi difícil: o espaço de passagem era exíguo e ainda ouvi comentários do género "a prioridade para as grávidas é só depois de receber a senha." Claro, se me arranjarem um suporte para a barriga, enquanto estou de pé, prometo que para a próxima eu espero na fila.
A senhora das senhas deu-me a senha nº 14, para ser atendida na mesa 23, local exclusivo para entrega de documentos com senha prioritária. Chego ao pé da mesa e era, afinal, um balcão altíssimo - o que dá imenso jeito a todos os que têm atendimento prioritário, sejam eles grávidas, coxos, pessoas em cadeira de rodas ou... anões.
Chego ao balcão 23 e o mostrador tem escrito a senha 8. Não sei porquê, há umas seis pessoas à volta das que estão a ser atendidas, de pé, ao balcão, a ouvir as questões pessoais e há até quem também faça comentários. É o bom povo português que, apesar de ter cadeiras disponíveis, prefere estar de pé a cuscar a vida dos outros...
Os minutos passam. As senhas prioritárias para entrega de documentos não avançam. E nisto, graças a um senhor com um bebé de colo, reparo que há três postos de atendimento vazios para a entrega de documentos. Só que como não são prioritários, as senhoras não chamam ninguém. Lá fui eu, perguntar como é que justificavam a situação e pedir para começarem a atender as pessoas com senhas prioritárias.
Dos argumentos das três senhoras, eu nem vou falar. Não dá para escrever coisas tão absurdas. Nem neste blogue. Finalmente, uma delas disse "então sente-se que eu atendo-a." Esta gente acha que me cala assim... é como uma certa médica... Adiante. Eu respondi:
- Eu quero ser atendida na ordem que me corresponde. Primeiro tem de chamar a senha 11, a 12 e a 13.
- E como é que quer que eu chame? - responde a senhora.
- Deixe estar que eu chamo - e grito - Senha 11!
Seguidamente, eu própria perguntei quem tinha a senha 12. A portadora não queria ir incomodar a outra funcionária "ela já está toda chateada", disse-me. Eu respondi-lhe que não tinha de pedir desculpa por um direito que tem. Lá se convenceu, foi até à mesa e foi atendida. Quando chegou a minha vez, fui atendida de pé, no balcão 23. O senhor funcionário era competente, solícito e simpático. Gostei.
E também gostei, apesar de tudo (e incluiu gritaria) que as senhoras da Segurança Social tenham reagido à minha reclamação de viva voz e tenham alterado momentaneamente o procedimento. O que eu não entendo é porque razão a disposição de atendimento foi alterada e em vez de melhorar, piorou. Porque é que se faz um balcão de atendimento prioritário com uma altura impossível para a maioria dos que têm direito à prioridade. Quem fez esta alteração, tem de voltar a pensar nela. E quando o fizer, aproveite para incluir um botão para as senhas de prioridade, em todas as mesas de atendimento. Assim, pode ser atenddido, vez um, vez outro, quem tem dificuldades motoras e quem não tem. E ninguém se pode justificar perante a ausência de utentes. Há-de haver sempre o que fazer.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Corrupção oficial estimulada pelo Estado

Como se sabe, eu adoro o sistema público seja ele do que for. Hoje adoro a Segurança Social e a Direcção Geral das Finanças. Ando há mais de dois meses a tentar perceber o que é que devo fazer durante a licença de maternidade relativamente à minha actividade como trabalhadora independente. A custo, consigo conciliar mais do que uma actividade. Depois das horas exigidas no escritório vou para casa e muitas vezes dedico-me a outros trabalhos que me dão mais algum conforto material. Convenhamos, sem eles nunca conseguiria colocar dinheiro de parte nem fazer face a despesas excepcionais.
Por ser trabalhadora dependente, não desconto mais nada para a Segurança Social - significa isto que os impostos que pago na fonte se referem apenas ao auferido junto da minha entidade patronal permanente. Obviamente, o valor do subsídio de maternidade que vou receber se reporta apenas a este rendimento fixo. Assim sendo, seria talvez lógico que eu pudesse continuar com actividade aberta e passar recibos verdes, durante o período de licença. Por outro lado, no caso de desemprego, para receber o respectivo subsídio sei que sou obrigada a fechar actividade. E assim surgiu a dúvida: fecho ou não fecho a actividade, durante o período que estou em casa?
Primeiro, dirigi-me à Segurança Social com esta dúvida. Perguntei a uma funcionária que me disse "Isso é com as finanças." Achei estranho mas fui às finanças. Nas finanças acharam que eu perguntava sobre o subsídio pré-natal e imprimiram-me todo o decreto de lei que estabelece esta atribuição. Finalmente, consegui explicar-me melhor (como se sabe eu sofro de péssima expressão verbal) e lá me responderam "isso é com a segurança social!" Quando expliquei que vinha de lá, voltaram a dizer "isso é com a segurança social", mas ainda fizeram o favor de imprimir para mim a lei de bases da segurança social que, logicamente, não tem o artigo que eu procuro.
Voltei à segurança social, voltaram a dizer-me para ir às finanças, eu expliquei que vinha de lá e então deram-me um número de telefone para casos especiais. Quando pude telefonei... e ninguém atendeu.
Está resolvido: eu vou fechar actividade - o desconhecimento da lei não justifica o seu incumprimento. Para as actividades que tiver de cobrar durante a licença de maternidade (algumas já feitas e com pagamentos pendentes)passarei recibos verdes de outra pessoa... De preferência uma que não tenha rendimentos passíveis de declaração de IRS, nem onde se possam aplicar retenções na fonte. O que é que isto é? Corrupção oficial estimulada pelo Estado, acho eu.

Um aparte:
Na deslocação às Finanças resolvi perguntar pela minha nota de liquidação que nunca mais chega. Está bem, apresentei a declaração com um mês de atraso mas é preciso demorar tanto? Isto é o quê? Castigo? Por causa deste atraso, ainda não fui requerer o Abono de Família Pré-Natal, para além de ter outros assuntos menores pendentes(tipo renegociar o spread). E quando expliquei e perguntei o que se podia fazer, a senhora funcionária retorquiu "mas quanto é que é o subsídio?" Eu falei de um valor aproximado de 36 euros e ela respondeu "ó filha, deixe lá isso. Por esse valor, não vale a pena incomodar-se." Ainda agora eu não consigo comentar...

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Estacionamento para deficientes mentais no Freeport

No fim-de-semana passado tive a excelente ideia de ir ao Freeport de Alcochete e descobri uma super inovação no parque de estacionamento: o estacionamento de automóveis para deficientes mentais. A zona é exactamente a mesma definida para deficientes motores, grávidas e pessoas de mobilidade reduzida. O sinal para deficientes mentais ainda não foi colocado, mas os deficientes mentais ao volante, pelo que vi, já sabem que têm esse direito.
O parque do centro comercial estava cheíssimo. Eu disse ao meu marido: estacionamos longe para não nos chatearmos com isto. Mas nem longe dava. Quando estávamos a passar pela segunda vez na zona reservada às pessoas com mobilidade reduzida, íamos sendo atropelados por um TT tipo Grand Touran, que disputava um lugar de deficiente com outro carro ligeiramente mais pequeno. Como nós andamos de Clio, nem pensámos em entrar na disputa.
Mas depois eu disse ao João "pára aí que eu quero ver que tipo de deficiência tem este senhor." Entretanto saí do carro e fui recebê-lo à porta, com a minha barriga gigante. Ele ficou atrapalhado e eu expliquei (como se fosse preciso explicar) que estou grávida. "Se não se importa, deixa-me estacionar aí." O senhor assentiu, tirou o carro e nós pudemos estacionar o nosso. A seguir a estacionarmos, chegou um Mercedes. A senhora que o conduzia e o seu bem vestido filho adolescente, não tinham qualquer sinal de mobilidade reduzida, mas estavam todos contentes porque tinham conseguido um lugar mesmo à porta...
Nesta altura fui procurar um segurança. Expliquei-lhe que estavam pessoas ditas normais, a estacionar ali, o que fazia com que pessoas com dificuldades motoras reais não conseguissem estacionar em lado nenhum. "E o que é que senhora quer que eu faça?", perguntou-me o segurança. "Quero que vá para ali, garantir o cumprimento das normas." Nesta altura o senhor disse que não ía porque quando fez isso "no princípio, mandavam-me para o outro lado". Humm... Então para que é que servem os senhores seguranças?
Parece-me incrível que as pessoas conduzam à campeão para conseguirem um lugar ao pé da porta, que não respeitem quem tem mais dificuldades em mexer-se dificultando-lhes ainda mais a vida, que sejam tão indiferentes aos outros. E é igualmente inverosímil que um segurança possa responder isto a um cliente, quando é tão evidente que os seus direitos básicos estão a ser lesados. Mas é verdade.
E depois há a registar a reacção do Freeport de Alcochete. Hoje liguei para lá e expus a situação. Expliquei que queria fazer uma reclamação formal, contei o que me tinha respondido o segurança. O senhor disse que não podiam fazer nada "porque saiu uma nova lei que dá a jurisdição dos parques de estacionamento à GNR." "E sabe dizer-me qual é o artigo?" É claro que o senhor não sabia... E quando eu sugeri para que a empresa chamasse a GNR, para regular a situação, pelos menos durante o fim-de-semana, o senhor respondeu que também não podiam fazer isso. Mas que se eu voltasse ao Freeport, podia "da pirâmide de informações, telefonar para a GNR." Obrigadinha pela esmola!
Portanto, o Freeport de Alcochete não vai por cobro a esta situação, apesar de, segundo me informou o mesmo senhor, já não ser a primeira queixa. O Freeport de Alcochete sabe que há uma situação irregular recorrente dentro do espaço que administra mas nem por isso vai tomar medidas. Só posso concluir que o Freeport privilegia os atrasados mentais ao volante preterindo as pessoas com mobilidade reduzida. Eu, tenha ou não tenha mais dias de dificuldades motoras, não volto a ir ao Freeport de Alcochete. É o meu protesto.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Visitas na Maternidade

Aproxima-se o dia do parto. A barriga cresce a olhos vistos. As roupas do bebé estão quase todas preparadas. E claro, não se fala de outra coisa à minha volta. A conversa das visitas na Maternidade é assunto dominante. Toda a gente quer saber onde vai nascer a criança, quais as horas da visita e já se prometem grandes festas à porta e dentro do quarto. Acontece que EU NÃO QUERO VISITAS NA MATERNIDADE!!!
Já expliquei imensas vezes: quero estar nestes dias com o meu marido e o meu filho. E quero fazê-lo tranquilamente. Quero a minha irmã e a minha avó ao pé de mim o máximo de tempo possível, porque são as mulheres em quem mais confio. Já expliquei imensas vezes! Só da família próxima (entenda-se: pais e irmãos) são dez, divididos entre os meus e os do meu marido. Mas este argumento parece não chegar.
Então eu acrescento: As visitas por cama são no máximo 3. Cada quarto tem 4 camas. O que já vai dar 12 pessoas por quarto (9 das quais desconhecidas) mais as pessoas visitadas: 4 recém-mães e 4 recém-nascidos. Hum. Que ambiente maravilhoso e que ar com tão boas qualidades para respirar! Se a isto juntarmos um corropio de gente a entrar e a sair, a disputar senhas de entrada lá fora, flores (absolutamente dispensáveis)... a mim já me parece mau, mas a uma criança que acaba de sair cá para fora parece o quê? O miúdo deve pensar que o trabalho de parto nem foi mau de todo.
Apesar destas razões, quando eu digo que não quero visitas, as pessoas insistem em responder: “Não vamos lá para te ver. É para ver o bebé”. E, portanto, eu não tenho direito a escolher a forma como quero que o meu filho seja recebido no mundo... acho lindo!
Sim, tenho a mania de controlar. Sim, tenho a mania que sei mais do que as outras pessoas. E sim, tenho a mania porque já assisti a coisas surreais, que nunca se deviam ter passado.
O meu sobrinho nasceu em Fevereiro último. Nasceu de cesariana. A minha irmã estava cansada e tomou morfina por causa das dores. Dois factores de bem-estar absoluto, como se imagina... Também a minha irmã tentou limitar as visitas, porque também ela, já tinha assistido aos filmes de outras pessoas de família. Não obstante, nos três dias que esteve no Hospital São Francisco Xavier houve alturas em que ela estava rodeada de gente pouco próxima. Os amigos a sério tinham respeitado a sua vontade e decidido esperar pelo regresso a casa. E um bando de gente sem noção, plantou-se aos pés da cama, limitando até a visita da família.
Portanto, a solução parece ser colocar uma lista de convidados à entrada da maternidade. Quem não constar, não pode entrar. Estou mesmo a pensar fazê-lo.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Para que serve reclamar?

Eu tinha a ideia peregrina que as reclamações formais serviam para melhorar os serviços sobre os quais reclamamos. Só mesmo eu, para achar uma coisa destas! Chegou finalmente a resposta do Hospital Dona Estefânia, à minha queixa escrita no Livro Amarelo, datada do mesmo dia da consulta de Fisiatria.
Nessa data, por causa de 2 horas de espera, eu fiz uma reclamação claramente contra o sistema. Expus o que me parecia um procedimento sistemático absurdo: obrigar as grávidas a apresentarem-se na recepção às 14h00 para marcarem a sua vez na consulta. Sublinhei, no livro de reclamações, que faria mais sentido marcarem pelo telefone a hora da consulta e não a hora da marcação, para que as grávidas não necessitassem de perder tanto tempo no hospital. Acrescentei que, por incrível que pareça, as grávidas trabalham.
A carta de resposta chegou. Aliás, chegaram duas. Uma para dizer que a reclamação estava a ser avaliada e outra, duas semanas depois da primeira, para responderem à minha reclamação. O senhor adjunto do director do hospital assinou uma carta em que se lia, resumidamente, o seguinte:

A sua consulta atrasou-se porque nesse dia houve uma urgência.

Pois, apesar de o meu trabalho ser escrever, pelos vistos tenho dificuldades de expressão escrita. (Não digam nada ao meu patrão!) Não me deram uma justificação para o sistema de marcação de consultas ser como é. Nem disseram se íam avaliar outras formas de marcação. Disseram-me, basicamente, para não voltar a fazer reclamações porque o sistema nacional de saúde é assim porque é assim. Não escreveram, mas é o que posso depreender.
Pois enganam-se! Vou continuar a reclamar. Aliás, já tenho plano para reclamar todas as vezes que for à consulta na maternidade, a partir das 36 semanas. É que quando marquei esta consulta avisaram-me para ir almoçada e levar lanchinho, porque a consulta deve demorar. Isto é, tenho que estar lá outra vez às 14h00, para marcar a vez, para ter consulta, para ser atendida ao final da tarde e nem ter uma estimativa inicial da hora a que vou ser atendida...

Para que serve uma reclamação? Por enquanto é para gastar papel. Vamos lá ver se isto muda.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Aulas de preparação para o parto

Acabo de chegar da minha segunda aula de preparação para o parto. Como previsto, chamaram-me antes de completar os sete meses. Ao contrário do que tinha dito, as aulas são sete (e não seis). Começam às duas e terminam entre as quatro e meia e as cinco. Aprende-se muito e sobretudo percebe-se que há muitas coisas que se estranham na gravidez que afinal são comuns à maioria das presentes.
O grupo é muito bom. Creio que a Maternidade do Hospital Dona Estefânia teve a preocupação de agrupar pessoas com um nível semelhante de escolaridade e estrato social. Parece horrível dizer isto, mas a verdade é que as aulas são úteis e não se perde tempo com mitos. E discute-se bastante. Há opiniões diferentes acerca de tudo: tomar ou não a epidural, fazer ou não a episiotomia, coisas a pôr na mala que se leva para a maternidade. Há, inevitavelmente, alguma concorrência entre as mães (sobretudo entre as adeptas do parto o mais natural possível e aquelas que acham válidos os procedimentos rotineiros dos hospitais). E há alguma doutrinação por parte das terapeutas - quando eu perguntei porque se parte do princípio que uma mulher não aguenta as dores do parto a senhora nem me conseguiu responder, do espantada que ficou. Disse apenas: "um parto com epidural é sempre melhor". Fica o registo, que contrapõe o da maioria das minhas amigas: elas preferem (às vezes depois de dois filhos) fazer um parto com dor e... com colaboração das próprias!
Seja como fôr, estas aulas são muito úteis para mim. E suponho que quem não tem mães recentes por perto ainda as aproveita mais. Pena é que o horário seja tão impraticável como este. Eu perco uma tarde inteira de trabalho e já sei que tenho direito a ela, já que a lei consagra todas as deslocações médicas ou equivalentes durante a gravidez como um direito. E o meu empregador nem se importa muito. Mas eu é que me importo, porque eu devo fazer o mesmo que faria se não tivesse que me ausentar, com o prejuízo de ter mais dificuldade em fazer alguns contactos. Uma colega minha da preparação para o parto, que se conseguiu empregar aos seis meses de gestação, pediu para ter as folgas todas às sextas, de forma a poder frequentar as aulas sem lesar o seu recente emprego... Eu agradeço ter estas aulas no público, mas os hospitais do Estado deviam ponderar dar este serviço também em horário pós-laboral. Porque quando o meu telefone toca no escritório e ninguém o atende, quem está do lado de lá não sabe que eu estou grávida e só pode pensar: "esta à sexta-feira sai sempre mais cedo"...

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Queremos ou não ser espanhóis?

Governo dá 2500 euros por cada novo filho

O Parlamento espanhol aprovou ontem o projecto-lei que regula a atribuição de um "cheque bebé" de 2.500 euros por cada filho que nasça ou seja adoptado, iniciativa contestada pelos partidos da oposição que a consideram insuficiente ou eleitoralista.

O apoio, conhecido por "cheque bebé", prevê o pagamento por cada filho que tenha nascido ou tenha sido adoptado depois de 1 de Julho último, altura em que o primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero anunciou a medida como um estímulo à natalidade.

A medida foi aprovada depois de um intenso debate dentro e fora do Parlamento, com algumas forças políticas a sustentarem que a iniciativa é uma simples manobra eleitoral - as eleições são em Março -, carecendo de uma política global de apoio à família.

Outras forças políticas apresentaram propostas de emenda à iniciativa, defendendo que famílias carenciadas deveriam receber até 3.500 euros e em casos de residentes em povoações com poucos habitantes a ajuda poderia aumentar até aos 4.500 euros.

As propostas de emenda foram recusadas, tendo o ministro do Trabalho e Assuntos Sociais, Jesús Caldera, defendido ontem a iniciativa, a primeira universal dirigida à família sem qualquer tipo de condicionamentos (fiscal ou contributivo).

Todas as famílias com residência legal em Espanha podem ter acesso ao "cheque bebé", independentemente dos seus rendimentos ou condição laboral.

A proposta de lei foi aprovada com carácter de urgência na Câmara Baixa e sem ser discutido em comissão, procedimento criticado pela maioria dos grupos parlamentares.

in JN, 19-10-2005

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Antes de ir à segurança social, é favor ir ao médico!

Mais uma complicação: o Abono de Família Pré-Natal só é atribuido após "Certificação médica em formulário de modelo próprio" segundo se lê no www.seg-social.pt. Portanto, quem estava a planear requerer o abono na segunda-feira próxima, dia 3, passe antes pelo médico pois ele tem de jurar pela sua honra, que cada grávida está mesmo grávida. Exames e declarações médicas normais não têm qualquer efeito.

No mesmo site, encontram-se todos os formulários necessários para este requerimento. Quem quiser já pode levar de casa a documentação preenchida. Aqui ficam as hiperligações para download:
http://195.245.197.196/preview_documentos.asp?r=16724&m=PDF
http://195.245.197.196/preview_formularios.asp?r=7807&m=PDF
http://195.245.197.196/preview_formularios.asp?r=7810&m=PDF

e o meu preferido, o do médico:
http://195.245.197.196/preview_formularios.asp?r=16723&m=PDF

Histórias da preparação para o parto (que ainda nem começou)

A preparação para o parto é grátis no Sistema Nacional de Saúde. Nas maternidades da área de Lisboa, uma consulta de fisiatria é o suficiente para aceder às aulas de discussão e preparação para o parto. Na Maternidade do Hospital Dona Estefânia (MHDE), essas sessões, seis no total, decorrem às segundas e às sextas-feiras, a partir das 14h00. As grávidas têm direito a uma aula semanal, que só acaba quando todas as dúvidas forem esclarecidas. Depois da consulta de fisiatria, basta esperar por uma vaga, que deverá aparecer antes dos sete meses de gravidez. É nessa fase que me encontro agora, à espera. E, apesar do processo de inscrição ser simples, é claro que o meu processo tinha de ter alguns fait-divers. Caso contrário, este blogue era uma chatice.

Depois de aconselhada pela minha médica de família, fui à MHDE para marcar a consulta de fisiatria. Na secretaria da Maternidade, o senhor que me atendeu nem sequer sabia o que isso era... Na secretaria da consulta de urgência e de gravidez de risco, a senhora (que lanchava alegremente com o namorado, nos bastidores do balcão) lá me deu um número de telefone, porque a secretaria desta consulta, a esta hora já estava fechada... Realmente, só eu para me lembrar de ir a um serviço público depois do horário de expediente que... coincide com o meu! Para a próxima digo ao meu director:"Olha, vou ter de sair duas horas mais cedo para marcar uma consulta." Adiante.

Consegui telefonar e a conversa que se seguiu não podia ser mais... cómica? Exasperante? Infeliz? Ora vejam:
eu - Estou? Boa tarde. Queria marcar uma consulta de fisiatria, para fazer a preparação para o parto.
a funcionária - E está a ser seguida aqui na maternidade?
eu - Não, mas vou ter o bebé aí.
a funcionária - Ah! Então não tem direito.
eu - Eu acho que tenho. Foi a minha médica de família que me disse.
a funcionária - Não. Estas consultas são só para as grávidas que estão a ser seguidas aqui na maternidade.

Neste ponto eu penso: As grávidas seguidas na MHDE são as de gravidez de risco. Acho que estas não se vão pôr a fazer ginástica. Nem precisam... O mais provável é que os bebés nasçam de cesariana.

eu - Olhe que eu estive a informar-me e sei que tenho esse direito.
a funcionária - Ah pois! Eu também não sou a secretária do serviço! Não tenho que saber estas coisas! A secretária está ocupada, espere um momento que eu vou perguntar como é.

Neste momento, eu agradeci a preocupação e disse que voltava a ligar mais tarde. Nem valia a pena refilar. Mas se eu não tivesse insistido, a esta hora ía a caminho de um privado, para exercer um direito!
Quando voltei a ligar, falei com a secretária e tudo se processou com normalidade. Dei algumas informações e marquei a consulta para dia 19 de Setembro. Uma hora certa é que não, que eu estivesse lá a partir das 14h00 e as consultas se processariam por ordem de chegada...

No dia combinado e um bocado antes da hora, por causa da ordem de chegada, entrei no serviço de fisiatria. Na secretaria informaram-me que eu era a quarta pessoa da lista e pouco depois percebi que algumas grávidas estavam lá desde manhã. Para próxima já sei! Digo ao meu director: "Olha, vou ter de sair duas horas mais cedo para marcar e ter uma consulta." E não te preocupes que como esta sandes no caminho... O tempo estimado para o atendimento era, segundo a secretária, de 45 minutos. Uma hora e meia depois, chamavam finalmente por mim.

A médica era competente e até me pediu desculpas pelo atraso (milagre! ou terá sido por entretanto eu ter feito uma reclamação no livro amarelo?). A consulta era apenas um questionário oral que abordava coisas como: semanas de gravidez, sangramentos, líquido amniótico, dores nas costas, pés inchados... Nem uma medição de tensão arterial ou da altura da barriga. No fim a médica concluiu que eu estava saudável e portanto apta para a preparação.

Primeiro irritei-me. Por que raio não me fizeram estas perguntas por telefone ou me pediram para preencher uma ficha. E depois pensei na parte da conversa em que a médica se espantou, porque eu sabia exactamente a semana de gravidez e a data provável do parto. A grávida atendida antes de mim, pensava que tinha mais semanas do que eu e mesmo assim programava o parto para depois, contou-me a médica. E aqui está um exemplo de que o SNS é mau por causa dos utentes que tem. Se toda a gente fosse consciente, pelo menos, do estado de saúde próprio, se calhar as coisas andavam mais depressa. E eu não tinha de reivindicar tanto!!!

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Festinhas na barriga não!!!

Quem é que me mexeu na barriga? Isto é, quem é que, antes de eu estar grávida, me impôs as suas mãos, me fez festinhas ou movimentos circulares na barriga? Quem é que encontrou motivos para o fazer? A resposta é: quase ninguém.
E de repente, as mãozadas sucedem-se. Quem é que pediu? A barriga é minha, continua a ser a minha pele, a minha sensibilidade! Mas isso parece ser indiferente. Hoje encontrei uma mulher que só conheço profissionalmente, que só vi uma vez. Quando nos cruzámos ela fez um sorriso enorme e disse: "não sabia que estavas grávida! ficas tão bem! estás muito bonita!" Este tipo de coisas até se agradece. Mas a mão a circular de cima para baixo na minha barriga e o olhar fixo, para baixo, enquanto fala comigo, é perfeitamente desnecessário! Aliás, incomoda!
O mais curioso é que o objecto das festas (eu) não pode dizer nada. Noutro dia tive de dizer a um tipo que também só conheço profissionalmente que não gosto de festas na barriga e que fizesse o favor de não me tocar. O olhar e a voz não deixaram passar outra coisa que a condenação. Eu sei que ele não tinha más intenções e até reconheço uma certa atracção pelo milagre que se passa debaixo da minha pele. Mas a pele é minha! Custa muito perguntar antes de tocar?

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Abono Pré-Natal dia 1 não é!

Acabo de regressar da Segurança Social da Avenida Afonso Costa, em Lisboa. Poupem as solas dos sapatos porque o decreto de lei que regulamenta o Abono de Família Pré-Natal ainda não está em vigor (ao contrário do que foi veículado em alguns orgãos de comunicação social - ver Agência Financeira).
Mas há mais. A simpática funcionária não tem indicações da data em que o subsídio passará a ser atribuído. Não sabe quais os documentos necessários para requerer o abono. E não faz a mais pequena ideia sobre a existência ou não de retroactividade.
A simpática funcionária desconhece tudo isto, porque a instituição em que trabalha não lhe deu indicações. A senhora supõe até que a direcção da instituição também não sabe o que vai acontecer. A senhora, a Segurança Social e nós, futuras mães e pais, temos que esperar pela publicação em Diário da República para saber isso tudo. E a funcionária não sabe quando isso será, mas aconselha "pode ir consultando a internet"...

Entretanto, é possível que as contas apresentadas anteriormente acerca deste Abono estejam erradas. Segundo os cálculos publicados na edição de Setembro da Pais & Filhos, a mim toca-me um subsídio de 36 euros. Que toda a gente saiba matemática! Eu incluida!

domingo, 2 de setembro de 2007

E ainda só tens essa barriga


Consigo finalmente escrever. Tenho andado cansada. A última coisa que me apetece quando chego a casa é sentar-me em frente ao computador. A barriga fica sempre esticada ao final do dia, o miúdo mexe-se muito e à noite parece que só posso ter duas posições: ou horizontal ou vertical. Sentada não lhe agrado. Deve ter menos espaço para fazer piscinas...
Tenho vindo a aprender que não se diz a verdade a toda a gente. Este cansaço e outros sintomas e sentimentos são coisas que não se devem revelar. Sobretudo a quem já esteve grávida. Também isto da maternidade é uma competição e é suposto que cada grávida se sinta o melhor possível, seja a maior, porque o que é natural nas mulheres... é estar grávida? Quando assim não é, encontra-se um óbvio sinal de falta de pendor natural para ser mãe.
Logo nos primeiro meses de gravidez o ritmo cardíaco aumenta (todos os médicos o explicam). Como consequência, aumenta a respiração e o cansaço cresce, mesmo em actividades que se fazem normalmente. Subir escadas começou logo a ser mais dificil (e eu moro num 2º andar sem elevador), caminhar pelas ruas do meu bairro ficou ainda pior (é que eu vivo no sobe e desce da Penha de França).
Um dia, estava eu a chegar ao Centro de Saúde e encontrei a mulher de um colega meu. Eu tinha vindo a pé desde a Baixa, porque até gosto de andar. Estava estafadíssima e mais do que se tivesse feito o mesmo sem estar grávida. Quando ela me perguntou como ía tudo, expliquei que "bem. Mas canso-me muito". A resposta não se fez esperar: "ai filha, e ainda só tens essa barriga".
Combinaram todas, foi? É que dos 3 aos 5 meses (que tenho agora)ouvi este comentário repetidas vezes das mais diferentes bocas. Havia as delegadas de propaganda médica, as donas de casa já com três filhos, as recentes mães, as directoras de marketing, as designers, as psicólogas, as professoras... Desculpem lá minhas "amigas". Eu sinto-me cansada e pelos vistos não fui feita para ser a melhor mãe do mundo.

Aliás, já percebi que há quem pense que eu não quero este bebé por causa das coisas que digo da gravidez. A gravidez, para mim, não é um estado de graça nem uma coisa agradável. É bom sentir o bebé a mexer, é bom saber que vou ter um filho e é incrível que ele esteja a crescer dentro de mim. É mesmo um milagre.
Mas o que é que tem de bom acordar duas vezes cada noite para ir fazer chichi? E acordar cheia de sede e não poder beber água porque se o fizer já sei que vomito? E ter convulsões matinais, sem ter nada do estômago, apenas porque hoje devo ter os orgãos deslocados? E não dormir bem porque há muito que a barriga para baixo deixou de ser uma opção? E dormir mal porque o inconsciente traz-me aos sonhos uma série de coisas que me pareciam resolvidas? Isto é bom? E o que vem a seguir?:
Mudei de caminho para o emprego, para evitar as subidas, já que me desloco a pé. Penso constantemente nas componentes de cada refeição. Sempre que me propõem uma viagem (que faz parte do meu trabalho) pondero quantas horas vou passar no carro. Às vezes tenho de ir a correr à casa de banho, outras tenho que me levantar e andar no escritório só porque a barriga assim o exige. Sinto um constante cheiro a leite podre, porque já deito colostro. Quando chego a casa ao final do dia tenho que pedir ao meu marido para me tirar os sapatos porque já não consigo desapertar as fivelas sem ginástica. Custa-me estender a roupa. Custa-me aspirar. E se passo muito tempo de pé começa-me a doer a barriga. Há ainda a comichão no umbigo, da pele a esticar. E a risota com o meu marido porque o sexo há-de voltar a ser bom daqui a um ano...
E é tão bom estar grávida.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Debaixo dos 20 continhos

O Ministério do Trabalho e Segurança Social anunciou com pompa as "Novas medidas de apoio à natalidade". A medida mais inovadora é o Abono de Família Pré-Natal, que se descreve num documento do MTSS da seguinte forma:

Montante de Abono de Família Pré-Natal
O Abono de Família passa a ser atribuído após o 3º mês de gravidez da mãe, o que corresponde a mais 6 meses de pagamento da prestação. No primeiro escalão passará a receber um montante total de € 2.351,16, - mais € 783,72 que actualmente.
Com base em dados actuais (beneficiários de Abono de Família) esta medida abrangerá 90.000 famílias.
26.000 famílias obterão um apoio adicional prévio ao nascimento da criança de € 108,85 por mês – 2º Escalão
32.000 famílias obterão um apoio adicional prévio ao nascimento da criança de €130,62 por mês – 1º Escalão
Ponderando pela distribuição dos titulares pelo respectivo escalão de rendimentos cada família receberá em média €96 mensais.


(http://www.governo.gov.pt/NR/rdonlyres/C455AAC1-B275-4BE9-9E44-CB501D3967A4/0/Apoio_Natalidade.pdf)

Este subsídio passará a ser atribuído a partir de Setembro, tendo sido já aprovado em Conselho de Ministros.

Fiquei muito contente com esta medida, que ainda me antige a carteira durante 4 ou 5 meses. Mas depois comecei a pensar em quem é que ganha mais com esta proposta. São as as mães? São os filhos? É o Estado?
Passo a explicar: recorrendo ao atendimento no Sistema Nacional de Saúde e às entidades privadas com acordos com o SNS, as grávidas não aumentam significativamente os custos no seu orçamento mensal. As consultas são gratuitas, exames como análises e ecografias não são pagos e os medicamentos são comparticipados à taxa máxima. Então, com mais 100 euros por mês eu vou poder juntar para o carrinho e a cadeirinha do bebé, a roupa, a cama, os biberões, as fraldas, as tintas e os papéis de parede... Bom, se calhar 600 euros não chegam para tudo isto. Esta é uma forma de ver a questão - e boa.
Outra forma de encarar estes 20 continhos é utilizá-los para no seguimento da gravidez no privado. As consultas são marcadas mais ou menos de mês a mês, o que pode configurar um bom motivo de investimento. Até porque o valor de uma ida ao obstetra ronda o valor do subsídio mensal e já inclui, muitas vezes as ecografias. Mesmo que o seguimento seja no SNS, uma grávida pode sempre optar por fazer os exames no privado já que, mesmo nos consultórios com acordos com o Estado, marcam-se as ecografias (por exemplo) com menos antecedência se uma pessoa estiver disposta a pagar (ver, por exemplo, a Clínica de Chelas). São só boas notícias! Só não são boas se se acreditar que um governo socialista devia estimular a utilização do SNS... e não ajudar as grávidas a fugirem do SNS.

Há ainda outra questão que deve ser lembrada: a atribuição deste subsídio é feita por escalões de rendimento. E, apesar desta diferenciação parecer justa (e o subsídio muito abrangente, já que só quando se atinge os 2000 euros per capita é que se deixa de ter direito ao mesmo) penso que esta é mais uma forma de estimular a subsídio-dependência das classes baixas. Se eu estiver em casa desempregada e já com um rendimento mínimo (perdão, de reinserção social) este abono de família pré-natal cai que nem ginjas. Os 130 euros a que passo a ter direito por estar grávida são um incremento significativo no meu orçamento familiar. É que este valor vai chegar para pagar a renda da minha habitação social (e ainda sobra). Com mais filhos vou ter direito a uma casa maior e continuo com a renda controlada. E quando puder tenho mais filhos = mais dinheiro = casa maior...

A classe média, que trabalha, que paga impostos, num instante chega ao escalão máximo. Não aos 2000 euros por pessoa (quem me dera...) mas aos 1000 euros mensais. E com 1000 per capita, tem direito a cerca de 90 euros. E 90 euros dão para quê? Se eu estiver empregada recebo os tais 1000 euros, e já vou com sorte. Pago uma renda ou uma prestação mensal ao banco que se aproxima dos 600 euros (e isto é por defeito), pago o passe dos transportes públicos ( o da carris, por exemplo, custa 26,65 euros), pago os inevitáveis almoços em restaurantes de quinta categoria porque a maioria das empresas não tem cantina nem condições para aquecer a comida que se leva no tupperware...

Portanto, debaixo dos 20 continhos que vou passar a receber a partir de Setembro (vamos lá ver) está uma medida populista com dois objectivos: 1 - dessocializar o Estado e em particular a assistência na saúde, incentivando o recurso aos médicos dos sistemas privados; 2 - incentivar as classes baixas e desinformadas a procriarem (desculpem o termo) e a aumentarem o número de indigentes e subsídio-dependentes e consequentemente de adultos com pouca formação. Para a classe média que trabalha e sustenta o Estado, resta uma ajudinha para ter meio filho por casal (assim dizem as estatísticas)...

O abono família pré-natal é um incentivo ao aumento da natalidade? Não me parece. Mais do que o dinheirinho na gravidez, eu sentir-me-ía incentivada a ter mais filhos, se os apoios pós-parto fossem outros: berçários a preços acessíveis, creches a preços acessíveis, pediatras a preços acessíveis, escolas a preços acessíveis, livros escolares a preços acessíveis e, já agora, que a qualidade dos mesmos não fosse duvidosa.

E sim, é claro que eu vou pedir os meus 20 continhos. Como é que eu os vou usar? Vou mudar as janelas da marquise para o meu filho não ter frio e vou pagá-las a prestações. É que o miúdo nasce em Dezembro.

Afinal dá para:

Comer marisco de confiança, descer a grutas, mergulhar a pouca profundidade, enfim, viajar e passar bem. Provas irrefutáveis?






quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Da necessária imobilidade das grávidas ou receita para exames nos Açores


Uma grávida não viaja. Toda a gente sabe. Quando uma mulher engravida é evidente que não se pode deslocar - nem em trabalho, nem de férias, nem por uma urgência imprevista. Embora esta ideia não tenha razões médicas efectivas, o próprio Sistema Nacional de Saúde não permite que se pense de outra forma.
Às 16 semanas de gravidez encontro-me nos Açores. Estou na Ilha Terceira para duas semanas de muita tranquilidade (aqui descansa-se mesmo). As férias estavam marcadas e com passagem de avião comprada, havia muito tempo... muito mais do que o tempo de gravidez. Como era impossível alterar as datas, resolvemos vir na mesma, achando que seria possível fazer a segunda colheita de sangue para o rastreio bioquímico. Realmente foi, graças à Dra. Antonieta Bento da Maternidade do Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, e ao Dr. Fernando Teixeira do Hospital do Santo Espírito, em Angra do Heroísmo. Como a mim me levou cinco dias até concluir o processo, descrevo o passo a passo dos essenciais para resolver uma situação como esta:

arranjar uma credencial para os Açores. Convém conhecer alguém com contactos (obrigada Sílvia!) e se não tente nas urgências do hospital;
recusar sempre fazer ecografias e outros exames no privado, porque os dados do primeiro exame são suficientes (com excepção do peso);
contar com a boa vontade do corpo médico açoriano para recolher o sangue, sintetizar o soro e emprestar o contentor que transportará a amostra congelada;
contactar a DHL para fazer o transporte, já que consegue normalmente fazer a entrega no dia seguinte à entrega, ao contrário dos CTT e de outros transitários .

Correu bem, apesar de tudo. Dos pormenores sórdidos retenho que, com excepção do Dr. Fernando Teixeira e da directora do laboratório, a maioria dos intervenientes açorianos neste processo não sabia o que era o rastreio bioquímico, incluíndo a enfermeira obstetra que me encaminhou para o médico que refiro...
Parece-me importante também ressaltar que esta operação que parece simples foi concretizada apenas porque houve boa vontade. Não há protocolos a seguir entre o Ministério da Saúde português e a Secretaria Regional de Saúde, quando se trata de procedimentos excepcionais, fazendo que quem é de "lá fora", como se diz aqui, se sinta estrangeiro e sem direitos. Mesmo quando não se fala de processos complicados, o simples facto do médico assistente ser externo à região autónoma traz complicações. Aqui, os diplomas dos profissionais de saúde continentais e as credenciais passadas por estes não são válidas. Tudo tem que ser feito segundo normas internas. Parece que, sendo residente em Portugal continental, é mais fácil ter filhos em Badajoz do que nos Açores.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Ecografia porcaria II

Quarta-feira passada regressei à Consulta de Saúde Materna com a minha médica de família. Para além dos exames e perguntas habituais, contei-lhe o episódio na Maternidade do Hospital Dona Estefânia. Quando lhe falei do episódio sobre a ecografia (aquele em que a obstetra da Maternidade se referiu à ecografia que eu levava como "uma porcaria") a médica de família pediu-me que a mostrasse de novo.
Mais uma vez analisou cuidadosamente o relatório do ecografista. Referiu que não sendo a obstetrícia a sua especialidade era possível que a obstetra tivesse o olho clínico mais treinado. Mas a seguir disse que não percebia onde é que o relatório falhava. Depois perguntou: "e porque é que ela não lhe fez outra ecografia lá na maternidade, se esta estava tão má?" Sorrimos as duas e não dissémos mais nada...

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Cansei de ser sexy?

Parece que ainda há quem acredite na história da cegonha. Isto penso eu, depois de tentar comprar roupa de grávida em várias lojas e sair de lá de mãos vazias. Quem está grávida, na maioria das vezes, teve relações sexuais. E não foi com uma pomba! Foi com um homem! Acresce a este facto, muitas mulheres grávidas confirmarem sentir mais vontade de fazer sexo do que sentiam antes. E o curioso é que este aumento da necessidade sexual é explicado pela ciência, tanto pelas alterações hormonais como pela maior sensibilidade das zonas erógenas, dado o acréscimo de irrigação sanguínea.
"Mas o que é que isso importa?", perguntam as marcas de roupa. A maioria da roupa pré-mamã parece dizer: "Já me f___ uma vez não me f__ mais." Eu não estou a pedir para a roupa ser sexy! Estou a pedir para ser apresentável. Para ter cores normais como o castanho e o vermelho! É necessário ser tudo cor de rosa e fazer ver que uma grávida é uma totó? As alterações do corpo já são difíceis de aguentar, não é preciso um corte radical com o guarda-roupa habitual para me fazer sentir ainda pior. Aposto que quem desenha a roupa das grávidas nunca esteve grávida. Se estivesse e tivesse reuniões de trabalho regularmente e uma vida social interessante e um marido de quem gosta muito, mudava logo de figura, isto é, de figurino!
Felizmente a moda "não grávida" este ano é compatível com a gravidez. Até nisto eu tenho sorte!
E já sei que há lojas com roupa gira como a Formes ou a 1 et 1 font 3. E quem é que tem dinheiro para comprar lá? Eu tenho me safado na H&M, que pelo menos tem calças mais ou menos giras. Mais nada.

Uma grávida não é um hipopótamo!

Há gente burra, há gente com falta de experiência e há gente mal intencionada. Não sei, muitas vezes, distinguir quem é quem - nem que intenção está por detrás de uma frase.
Hoje inicio a 16ª semana de gravidez e quanto mais tempo passa, mais disparates nos ouvidos colecciono. Se ao menos pudessemos fecha-los como fechamos os olhos... Hoje, um amigo fez-me o comentário "desculpa dizer-te mas estás em forma" referindo-se às minhas mamas. As minhas mamas estão gigantes, feias e dóiem-me! E quando eu explico isto, o comentário é basicamente: "mas assim (com roupa) ficam-te bem". E alguém com sensibilidade mental, arranja-se?
Diga-se de passagem que este não foi o pior que já ouvi. Numa loja de um outlet ao ar-livre ouvi o que me pareceu impensável mas que se veio a repetir vezes sem conta. "Loja de roupa de grávida? Não há. Mas ali ao fundo há uma loja de tamanhos grandes." Eu devia ter respondido qualquer coisa didáctica, no género de: "Ó minha amiga, eu estou grávida e as calças não apertam. É só isso! Continuo a vestir o 38 ao contrário da senhora que deve vestir o 44 e insiste em se enfiar por umas calças 40!" Mas só consegui engolir em seco.
As opiniões são tantas que até dá para ficar baralhada. Noutro dia na Segurança Social, comentaram justamente o inverso. Disseram-me que eu não tinha direito a atendimento prioritário porque sou magrinha. "A grávida para passar à frente tem que ter barriga que se note".
Bom, para a próxima vez que lá for levo a amiga de uns amigos meus que me disse ao jantar: "Então gorda, estás boa?" Ignorei, sorri e saí. Mas à segunda interpelação, não aguentei. A gaja (só me ocorrem expressões piores) disse-me "Então barriguda, está tudo a correr bem?" Achei por bem não estar calada e disse tranquilamente: "Ò gaja, eu não estou gorda, nem barriguda e se tu não soubesses que eu estou grávida nem notavas." E a gaja teve a lata de dizer que sim! Que notava! Continuei: "Só aumentei dois quilos e como o meu peso é muito variável e a moda deste ano é roupa larga, quem não sabe, não vê que estou grávida." Não sei porque é que me calei de seguida. Devia ter-lhe dito qualquer coisa do género. "E tu, rodas baixas, que tal? Já resolveste os teus problemas afectivos e mentais? Ah! Resolveste pintar o cabelo de louro. É para condizer com o espírito? É que com o corpo não fica nada bem." Mas não, calei-me muito caladinha...

terça-feira, 3 de julho de 2007

As coisas boas das coisas más

Passaram 3 dias desde a consulta na Maternidade do Hospital D. Estefânia. E hoje, a meio da manhã, recebi uma chamada da instituição. Era uma médica a pedir-me imensas desculpas por me ligar "mas a minha colega esqueceu-se de anotar algumas informações importantes para o rastreio bioquímico".
Parece, então, que a médica que me atendeu estava a substituir esta que me ligou, que gozava férias. E que, apesar de fazer a consulta de forma "técnica", se esqueceu de anotar coisas importantes para chegar a um resultado fiável do teste de probabilidade de malformações. Eram elas: ser fumadora, ser diabética, peso no dia da consulta (felizmente pesei-me nesse dia, na consulta com a médica de família porque na maternidade nem vi uma balança) e, ainda de maior importância, semana de gestação na data da ecografia e respectivos diâmetro biparietal e comprimento craneocaudal...
A minha primeira reacção foi ficar zangada. Mas a verdade é que esta médica que me ligou hoje foi de uma boa-educação extrema e, além disso, 2 dias úteis para detectar um erro não me parece uma fortuna.
Assim, volto a ganhar alguma confiança naquela maternidade.

sábado, 30 de junho de 2007

Primeira vez na Maternidade

Uma hora à espera na zona das consultas da Maternidade do Hospital Dona Estefânia... mas não para ter a consulta, o que até podia ser razoável. Uma hora à espera para saber se ía ter a consulta nesse dia ou não... Depois de uma hora à espera resolvi perguntar se já se sabia se eu ía ter consulta ou não. A resposta na recepção foi: "Não se preocupe que não sai daqui sem consulta marcada". Pois, só que não foi isso que eu perguntei. Reformulei: "Eu quero é saber se a consulta é hoje ou noutro dia. Estou há uma hora à espera e como imagina tenho outros compromissos. Preciso de saber se os adio ou se os mantenho".
Bom, depois disto, mandaram-me falar com a enfermeira da sala tantos. Lá fui e a senhora, simpática sem dúvida, não podia fazer nada, não sabia nada. Mas a minha ficha continuava a descansar tranquilamente em cima de uma mesa, nessa sala, junto a outras credenciais. Eu expliquei mais uma vez que estava há uma hora à espera e que tinha outros compromissos. "Preciso de saber se os adio ou se os mantenho".
"Se quiser vá ali à porta e fale com a doutora. Eu não posso fazer isso," disse a enfermeira.
Muito bem. Estou de pé no corredor, onde está outra grávida, de fim de tempo, também à espera, também de pé... Estou diante de duas portas que têm indicação triagem. Quando a primeira se abre eu peço desculpa por entrar. Lá dentro estão 3 mulheres de bata branca e uma entra logo a seguir. As quatro estão muito contentes e numa animada cavaqueira.
"Peço desculpa por estar aqui, sei que não devia, mas estou há uma hora à espera para saber se tenho consulta hoje ou não. Só precisava dessa informação." Uma das senhoras, que é a médica, responde-me: "onde é que está a sua ficha?"
"Está na sala da enfermeira. Posso ir buscá-la". Conforme vou, entra uma paciente na sala, para a consulta. Mas pelo menos consigo meter a minha ficha lá dentro! Espero mais meia hora para saber. Mais meia hora com a outra grávida que está no fim do tempo. Estamos as duas de pé. E rimos... afinal, com o tempo que nos fazem esperar até parece que a licença de gravidez já existe.
Meia hora depois, sai a outra grávida entro novamente na sala. A médica pergunta-me se sou eu a Carla. "Sim, sou, vou ter consulta hoje?" "Sim, sente-se, atendo-a já". Neste momento penso, mas não digo, que devo estar a passar à frente a uma data de gente quando eu só queria saber se tinha consulta. Não foi o que eu pedi, mas enfim, que se lixe, já estou a ser atendida.
Conto a história de família que me leva a querer fazer o rastreio. Falo da leucemia da minha mãe e ela responde, ríspida, "mas isso não tem nada a ver" e eu digo "pois, mas eu não sei, não sou médica" e começa a peixeirada. A doutora grita comigo, que me está a fazer um favor, que me passou à frente de muita gente com consulta marcada, que vai fazer isto de forma meramente técnica. Voam papéis e a médica esbraceja até eu lhe gritar também (e mais alto) que ela não pode falar assim comigo e que eu não pedi favor nenhum. Ela ainda se queixa que tem imensa coisa para fazer e que não está para aturar isto, mas acalma-se. Eu não digo mais nada, mas penso.
Penso que raio de gente é esta que pensa ser a única classe profissional do mundo a ter muito que fazer. Estão sobrecarregados? Também eu e estou ali há muito tempo à espera e não é por estar grávida que o meu trabalho diminui. Penso porque é que temos médicos que não seguem protocolos e que gostam de fazer favores? Porque é que a minha ficha não foi para a triagem, cinco minutos depois de eu a ter entregue na recepção? Porque é que eu tive que andar pelos corredores e tive de chegar à fala com a médica e ocupá-la para conseguir ser atendida? Porque é que esta gente acha que está a fazer favores quando é das suas funções atender pessoas que recorrem ao serviço onde trabalha e é remunerada para tal?

Segunda parte: ecografia porcaria
Ainda na mesma consulta na MHDE, a médica vê a minha ecografia das 11 semanas e diz que é uma porcaria e faz mais considerações acerca das borlas dos acordos... Eu explico que paguei e que portanto não use esse argumento.
Então a doutora elenca um rol de profissionais privados que são muito bons. A Joaquina Tavares vem à cabeça (e sim, toda a gente fala bem mas a senhora cobra 110 euros pela mesma eco em que eu paguei 65) mas há mais. E eu suponho, pelas idades dos que conheço, que são todos colegas de curso... mas não faço comentários.
Porque é que numa consulta no SNS eu tenho direito a publicidade? Isto parece-me, no mínimo, duvidoso e tenho impressão que não é muito legal...

Saio da consulta resoluta a fazer uma reclamação por escrito. Tudo isto me pareceu abusivo. Eu não sou analfabeta e conheço os meus direitos. E depois faz-se luz... E se esta obstetra me encontra novamente nas consultas? E se é ela a fazer-me o parto? E penso: estou lixada. É melhor não fazer nada.
Lá vou eu, finalmente, fazer o rastreio. As enfermeiras são surdas (com excepção da estagiária que é muito querida e competente) mas isso também já não me interessa. Quero dar o sangue para análise e ir-me embora. Para a próxima gravidez tenho bebé em casa ou, melhor, vou para a Austrália, para o deserto.

E depois penso, isto é quase como ir para o privado. Eu tenho direitos. Se tenho medo de represálias, queixo-me de outra maneira: escrevo este blog para contar como é o SNS. Se não é todo igual, fica este exemplo. E no fim, daqui a seis meses, envio o documento inteiro para o Ministério da Saúde. Eu também tenho contactos!

Posso fazer o rastreio bioquímico?

A minha médica de família é extremamente cautelosa. Suponho que é por não ser especialista em gravidez. Quando lhe disse que sentia uma pressão do lado esquerdo da barriga, interpretou essa impressão como uma dor e aconselhou-me a fazer uma ecografia. Eu tinha contado dez semanas mas afinal, na ecografia, vimos um feto de onze. Só lhe faltava um bocadinho do queixo, de resto parecia uma pessoa completa.
Como era mais ou menos urgente, preferi fazer a ecografia a pagar. Num consultório com acordo com o SNS as vagas existentes só me permitiriam fazer a eco no dia 28 de Julho. Assim, consegui fazê-la duas semanas antes.
Felizmente estava tudo bem. O médico que realizou o exame explicou que era normal sentir esta pressão e que, apesar de ser cedo para ver a transparência da nuca, os outros sinais morfológicos (como o formato das mãos) indicavam um bebé saudável. Paguei 65 euros pelo exame, mas nem me importei. Estava tudo bem e o médico foi de um profissionalismo e de uma amabilidade excepcional.
Mesmo assim, na consulta seguinte, em já contava 12 semanas de amnorreia, pedi à médica para me prescrever o rastreio bioquímico. A minha família próxima tem alguns casos de malformações e mesmo que assim não fosse, acho que quanto mais se souber sobre a criança que aí vem, melhor preparados podemos estar.
Mas a minha médica preferiu enviar-me para a Maternidade do Hospital Dona Estefânia, com uma credencial para uma consulta e uma carta para o especialista que me assistisse. E foi depois disso que eu resolvi escrever este blog.

Porque é que estou aqui, doutora

Quanto mais pessoas se afastarem do Sistema Nacional de Saúde (SNS) pior ele fica. Quanto menos pessoas críticas e exigentes recorrerem aos cuidados de saúde do Estado, menos respeito pelos direitos de quem usa o sistema público haverá. E já hoje, quem vai ao público é, na maioria das vezes, quem não tem alternativa.
É esta a minha convicção e foi o que expressei à minha médica de família. Também a ela lhe custava crer que eu (bem vestida, informada e interrogativa) preferisse ter uma gravidez acompanhada no público, por um médico de clínica geral e não um obstetra.
Eu preferia ter um obstetra. A minha irmã, também ela seguida no SNS, teve um obstetra. O acompanhamento por parte do Centro de Saúde de Oeiras foi tão bom que foi detectado ao bebé uma arritmia quase inaudível, ainda quando o seu nome científico era feto.
Eu preferia ter um obstetra. Mas em Lisboa, os CS estão a deixar de ter obstetras e ginecologistas. Parece que o número de nascimentos não justifica. Quem tenha um problema uterino, quem passe por uma menopausa difícil, quem tenha outro problema desse foro ou vai ao privado ou espera dias e dias por uma consulta, mas uma gravidez não pode esperar, por isso, o médico de família encarrega-se das grávidas.
Eu poderia pagar as consultas no privado. Não seria fácil mas seria possível. Só que não me parece ético não exigir ao Estado que me dê algo em troca dos meus impostos. Nem me parece justo que eu, por ser mais rica do que a maioria da população, tenha direito a atenções que a maioria das pessoas não tem. Esta é a minha forma de fazer política. Nunca fiz greve e só vou a algumas manifestações. Mas exigir respeito, fazer valer os direitos e reclamar junto das entidades competentes são coisas que a maioria dos utentes do SNS não faz, não sabe fazer e não pode. Eu quero que se possa porque eu quero um sistema de saúde competente.

Correr para a 1ª consulta

No dia em que soube estar grávida - no dia em que fiz o teste que confirmou o que desconfiávamos - fui ao Centro de Saúde (CS) da Penha de França. Ainda não estava inscrita porque tinha mudado de casa há pouco tempo, mas lá consegui uma consulta para a médica de família que costuma dar as consultas relacionadas com a mulher (do planeamento familiar à menopausa).
Uma semana depois fui à consulta. Estava marcada para as 17h30 mas por volta das 15h00 telefonaram-me do CS e disseram-me: "então não vem?". "Vou" e acabei por ir mais cedo do que o previsto. Fiquei assustada com a possibilidade da médica se ir embora. Larguei o trabalho no escritório sem justificação razoável (ainda não queria que se soubesse), apanhei um táxi e meia hora depois estava no CS, muito nervosa.
"Agora não valia a pena ter vindo. A doutora foi fazer domicílios. A consulta vai ser à hora marcada." Foi o que me disse uma das funcionárias administrativas. À hora marcada tive a 1ª consulta... Porque é que me telefonaram a perguntar se eu não ía????